terça-feira, 28 de julho de 2009

MANIFESTO DE SEGUNDA

Poema bege, conto para microscópio.

Permitimos aos que vêm as segundas, a luxúria sem cabresto de arriscar poesia. Alguns faíscam um fogo que, mesmo sendo branco, não é brando; alguns nada escrevem; e outros escrevem segredos em uma mídia que revoluciona o mundo da criação! No mundo das fadas - negativo dos que vêm às segundas - a única regra é que tudo seja tão pequeno quanto elas, inclusive o tamanho em que sua legislação é escrita.

Expectativa

Se eu pudesse destruir alguma coisa no mundo, não acabaria com a fome... Acabaria com a expectativa.

Estimular o limiar do clitóris, sem nunca tocá-lo de fato, numa espécie de gincana alucinada; dizer que não vai dizer; ser mulher com um segredo; esconder; pintar as possibilidades com o frescor daquilo que se espera; são essências que agem sobre a espécie daqueles que vêm as segundas. Estão sempre lendo preposições, artigos e verbos que nunca foram escritos, transformam em euforia tudo que tocam, falam de percas sem número, de ideologismos que recaem sobre palavras ou sobre mesas de algodão, exalam a ausência dos que nunca vieram. Nós, ao contrário não esperamos ninguém além de nós mesmos. Escutamos aquilo que calam e, pacientemente, aguardamos que o efeito passe. Observamos e intercedemos, ora com bravura, ora com medo, quando lançamos no espaço a vontade e o delírio, a fim de servir às empreitadas dos homens, movidas por penachos de carnaval desde antes de nossa existência. Panfletagem pura.

Bundalêlê

Eu não quero ecstasy, piração, iluminação... Eu quero um videogame e um emprego!

– Ecumênico!
– Sacro!
– Mago!
Uma gritaria dos diabos! Aqueles que vêm as segundas são sincretismos deles mesmos.
– Buda!
– Oxalá!
– Padi Ciço!
– Mãe-Dinnah!
Expelem mantras de vampiro e rogam pelos prazos. Choram por não ter emprego e pitam a falta de grana. Especulam qual o melhor domínio e imploram por uma cara. Bebem ayahuasca. Sem gelo, sem limão. Cowboy mesmo. Vomitam borrasca, ouvem Pet Shop Boys e visualizam, dias depois, a maior de todas as alucinações: coxinhas de duas tetas!

– Eu belivo!
– Sidarta!
– Nem fudendo!
– Só fudendo!
– Eu bulino!
Tripla proteção espiritual, flatos, experimentação de saladas, gincanas que nunca acontecem e promessas de encontros para o fim de semana, são o que os torna tão sincréticos (ou seria sintéticos?). Daqui, apenas observamos. Nada podemos fazer.

Recordar é viver

Farfalhando pelo mundo e pela poluição da regra de não haver regras no mundo das fadas, somos interrompidos por mensagens do além-parto, enviadas por um saurópode – oráculo pó natureza – tão preocupado com sua prole..., e que, com mão viciada, lança desafios no vácuo-panteão onde, não sem esforço, ganhamos uma parcela de vida.
Dentre a enxurrada de epístolas de segunda, deparamo-nos com a questão: qual seria o brilho eterno de uma mente sem lembranças? Atentos e em riste, ouvimos dos que vêm as segundas, aquela que, mesmo não sendo plausível, parecia ser a resposta da irrequieta pergunta.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças é encontrar, ou tentar encontrar, a memória primordial daquilo que somos, descamando as que são construídas, adquiridas ou criadas com as pernas da ficção, como quando contamos o mesmo fato mais de uma vez e tendemos a melhorá-lo ou piorá-lo, de acordo com o que esperamos que nossos ouvintes, ou leitores sintam. A memória é uma ilha de edição...De quem é isso mesmo?
Non soddisfatti, aceitamos a idéia... mais por compaixão do que por acreditar, de fato, nela ou nos que vêm as segundas.

Ideologismos

Não somos aquilo que falamos, tampouco o que dizem aqueles que vêm as segundas, somos a polifonia de uma existência e das várias existências que se agrupam por razões aparentemente simples, mas que resultam em anomalias de muitas ordens, pois carregam em si, as notas que compõem os perfumes das mais acaloradas e diversas discussões sobre o sexo, os sexos, filosofia, certificados, RPG, florais de Bach, casamento, tiazinhas e coisas de viado. Às vezes uma palavra, carregada ou não de ideologismo, pesa mais que um elefante, e a carga com que é dita, causa uma reação na exata medida em que a ação se fez existir. E nisso surgem paliativos ou intermitências que amenizam a convivência. Ou até mesmo questões maniqueístas, jurídicas e discussões que assombram mais ainda o que poderia ter sido resolvido com o chicote da reação. Confuso? É pra ser assim mesmo. Estender uma discussão, ainda que seja para encontrar denominadores comuns, ou incomuns, é bem pior do que o inconveniente que a palavra motriz da ofensa possa ter causado. Nossos heróis morreram de overdose, sobraram os que vêm as segundas. Nada podemos fazer, apenas observamos.

Improexperimentando adendos finais

Entre felações e a ilusão de existir (dentro dos cerceamentos que a mente nos impõe) há um sentimento, sentido que conhecemos tão bem quanto a origem do universo: eclodir. Ou seja, os bigbangs criativos, quando são dissolvidos os nódulos e cristais espalhados na medula, desde o ponto onde eletrodos de carbono e neurônios inconseqüentes se unem a fim de ditar o que eles pensam pensar, até a fronteira final da receptação (ou interceptação) de idéias: o cóccix, um órgão primitivo esquecido no corpo de nossos criadores, aqueles que vêm as segundas, como um bisturi usado com precisão parksoniana... Confuso? Foda-se. No bom sentido é claro, sempre. Quem somos? Somos uma espécie de efêmera sonoridade, de silêncios maciços, de minúcias de pedreiro, ou de caçadores de elefante, faiscando suas navalhas no marfim das folhas que chamamos de casa.

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