sexta-feira, 10 de junho de 2022

Não escrever

25 Trepadas Literárias

 


 (Organizado por Joca Reiners Terron... AQUI)

 

REPADA EPISTOLAR VAPOROSA

1) James Joyce – “Cartas a Nora Barnacle” (1909)

“Minha doce Norazinha putazinha. Fiz o que me pediste, pequena sacana, e me esporrei duas vezes enquanto lia tua carta. Estou feliz de ver que gostas de ser fodida no cu. Sim, lembro-me agora daquela noite em que tanto tempo te fodi por trás. Foi a foda mais suja que jamais te dei, meu bem. Mantive a pica metida em ti horas a fio, entrando e saindo de teu traseiro virado para cima. Sentia tuas nádegas gordas e suadas debaixo de meu ventre e via teu rosto em fogacho e teus olhos aloucados. Cada vez que eu metia, tua língua despudorada se punha de fora de teus lábios e se uma foda era maior e mais violenta que as outras, saíam peidos gordos e úmidos espocando por tuas ancas. Naquela noite, bem, tua bunda estava cheia de peidos, e com a foda eu os fiz sair, grandes e gordos, prolongados e cheios de vento, estalinhos rápidos e alegres e uma porção de peidinhos pequeninos e travessos que terminavam num jorro demorado por teu buraco. É maravilhoso foder uma mulher peidorreira quando cada metida faz sair um. Penso que eu reconheceria um peido de Nora em qualquer lugar. Penso que poderia distinguir o dela numa sala cheia de mulheres peidando. É um barulhinho bem de menina, não como o peido molhado e cheio de vento que imagino ser o das esposas gordas. É inesperado e seco e indecente como o que uma menina atrevida soltaria de pândega num dormitório de colégios à noite. Espero que Nora nunca pare de soltar peidos na minha cara para que eu fique conhecendo também o cheiro deles.(…)”

“Cartas a Nora Barnacle”, Massao Ohno, 1998, SP, tradução de Mary Pedrosa.

TREPADA EPISTOLAR LÍQUIDA

2) James Joyce – “Cartas a Nora Barnacle” (1909)

“Dizes que quando eu voltar vais chupar-me até o fim e queres que eu lamba tua cona, malandrinha depravada. Espero que alguma vez me surpreendas dormindo vestido, escorregues por cima de mim com um brilho de puta em teus olhos sonolentos, abras de leve, um por um, os botões de minha braguilha e tires com delicadeza o peru gordo de teu amante, enfiando-o na boca e chupando até que ele engorde e fique duro e se entorne na tua boca. Alguma vez também eu te surpreenderei dormindo, levantarei tuas saias e abrirei com cuidado tuas calças quentes, e depois me deitarei quieto ao teu lado e começarei a lamber preguiçosamente em redor de teus pelos. Começarás a remexer-te desajeitadamente e então lamberei os lábios da cona de meu amor. Começarás a gemer e suspirar e balbuciar e peidar de lascívia no teu sono. Lamberei  então cada vez mais depressa como um cão voraz, até que sua cona seja uma papa viscosa e teu corpo se contorça loucamente.”

“Cartas a Nora Barnacle”, Massao Ohno, 1998, SP, tradução de Mary Pedrosa.

TREPADA SURREALISTA

3) André Breton e Paul Eluard – “A Imaculada Concepção” (1930)

“(…) A língua desenha os lábios, junta os olhos, ergue os seios, cava as axilas, abre a janela; a boca atrai a carne com todas as suas forças, naufraga num beijo errante, substitui a boca por ela arrebatada, é a mistura do dia e da noite. os braços e as coxas do homem estão ligados aos braços e às coxas da mulher, o vento se mescla à fumaça, as mãos tomam as impressões dos desejos (…)”

“História da Literatura Erótica”, Alexandrian, Rocco, 1993, RJ, tradução de Ana Maria Scherer e Laurênio de Mello.

TREPADA LÁCTEA

4) Georges Bataille – “História do Olho” (1928)

“Havia no corredor um prato de leite para o gato.

– Os pratos foram feitos para a gente sentar – disse Simone. – Quer apostar que eu sento no prato?

– Duvido que você se atreva – respondi, ofegante.

Fazia calor. Simone colocou o prato num banquinho, instalou-se à minha frente e, sem desviar dos meus olhos, sentou-se e mergulhou a bunda no leite. Por um momento fiquei imóvel, tremendo, o sangue subindo à cabeça, enquanto ela olhava meu pau se erguer na calça. Deitei-me a seus pés. Ela não se mexia; pela primeira vez, vi sua ‘carne rosa e negra’ banhada em leite branco. Permanecemos imóveis por muito tempo, ambos ruborizados.

De repente, ela se levantou: o leite escorreu por suas coxas até as meias. Enxugou-se com um lenço, por cima da minha cabeça, com um pé no banquinho. Eu esfregava o pau, me remexendo no assoalho. Gozamos no mesmo instante, sem nos tocarmos. Porém, quando sua mãe retornou, sentando-me numa poltrona baixa, aproveitei um momento em que a menina se aninhou nos braços maternos: sem ser visto, levantei o avental e enfiei a mão por entre suas coxas quentes.”

“História do Olho”, Georges Bataille, CosacNaify, 2003, SP, tradução de Eliane Robert Moraes.

TREPADA PIONEIRA

5) Giovanni Bocaccio – “Decamerão” (1353)

“Depois de recusar-se várias várias vezes, Alexandre lá se foi deitar, já despido. O abade acariciou-lhe o peito, e pôs-se a bulir em seu corpo, carinhosamente, de modo não diverso daquele que as moças apaixonadas fazem com os seus amados. Alexandre ficou profundamente maravilhado com o fato. E duvidou de que fosse o abade, assaltado por amor impulsivo e desonesto, quem se arriscava a acariciar-lhe o corpo daquela forma. Ou por presunção, ou por algum ato cometido por Alexandre, o abade logo concebeu clara idéia dessa dúvida. E sorriu. Despiu rapidamente uma camisola que vestia, segurou a mão de Alexandre, colocou-a sobre o próprio peito, e disse:

– Alexandre, apague esse tolo pensamento; procure por aqui… assim… Veja o que eu escondo aqui.

Colocando a mão sobre o peito do abade, Alexandre achou dois seios, pequenos e redondos, duros e delicados, como feitos de marfim. De pronto, assim que os encontrou e os apalpou, notou que a pessoa que ali estava era uma mulher. Não aguardando novo convite, procurou logo abraçá-la, apertá-la ao peito. Nesse momento ela disse:

– Antes que você se aproxime mais intimamente de mim, ouça o que quero dizer-lhe. Como pode constatar, sou mulher, não homem. Sou donzela; saí virgem de minha casa. Minha intenção era procurar o papa, em Roma, para que ele me desse marido. Quer para sua ventura, quer para minha desdita, a verdade é que vi você outro dia; desde que o vi, fiquei inflamada de amor, de tal maneira, que creio que outra mulher nunca amou tanto um homem (…)”.

“Decamerão”, Giovanni Boccacio, Círculo do Livro, S/D, SP, tradução de Torrieri Guimarães.

TREPADA MANUAL

6) Henry Miller – “Trópico de Câncer” (1934)

“À noite, quando olho o cavanhaque de Boris estendido sobre o travesseiro, fico histérico. Ó, Tânia, onde estão agaora aquela sua boceta quente, aquelas ligas gordas e pesadas, aquelas coxas macias e arredondadas? Em meu membro há um osso de quinze centímetros de comprimento. Tânia, alisarei todas as pregas de sua vulva, cheia de semente. Mandá-la-ei de volta para seu Sylvester com a barriga doendo e o útero virado. Seu Sylvester! Sim, ele sabe acender um fogo, mas eu sei inflamar uma vagina. Enfiarei pregos quentes em você, Tânia. Deixarei seus ovários incandescentes. Seu Sylvester agora está um pouco ciumento? Ele senta alguma coisa, não sente? Sente os remanescentes de meu grande membro. Deixei as margens um pouco mais largas. Alisei as pregas. Depois de mim, você pode receber garanhões, touros, carneiros, cisnes e São Bernardos. Pode enfiar pelo reto sapos, morcegos, lagartos. Você pode defecar arpejos ou amarrar uma cítara sobre o umbigo. Eu estou fodendo, Tânia, para que você fique fornicada em público, eu fornicarei privativamente. Arrancarei alguns pelos de sua vulva e os grudarei no queixo de Boris. Morderei seu clitóris e cuspirei moedas de dois francos…”

“Trópico de Câncer”, Henry Miller, Ibrasa, 1994, SP, tradução de Aydano Arruda.

TREPADA DESPREVENIDA

7) Anais Nin – “Delta de Vênus” (1969)

“Uma das garotas tinha cerca de dez anos; a outra, doze. Eram bonitas, tinham grandes olhos negros e aveludados, cabelos compridos e sedosos, e pele dourada. Usavam vestidos brancos curtos e meias também brancas. Com agudos gritinhos as duas garotas entravam correndo no quarto do Barão e se atiravam em sua imensa cama.

Só que o Barão, como muitos homens, sempre despertava com o pênis em um estado particularmente sensível. Na verdade, ele se sentia muito vulnerável. Não tinha tempo de se levantar e acalmar sua condição urinando. Antes que pudesse fazê-lo, as crianças já tinham cruzado correndo o soalho lustroso e se atirado sobre ele e seu pênis proeminente, que de certa forma o grande acolchoado azul-claro conseguia ocultar.

As duas meninas não se importavam com o fato de suas saias ficarem totalmente levantadas e com o modo como suas esbeltas pernas de dançarinas se trançavam e pressionavam o pênis dele, intumescido sob a coberta. Rindo, rolavam sobre o Barão, sentavam-se em cima dele, montavam-no e o tratavam como se fosse um cavalo, instando para que ele balançasse a cama com um movimento de seu corpo.”

“Delta de Vênus”, Anais Nin, Círculo do Livro, 1977, SP, tradução de Haroldo Netto.

TREPADA SURPRESA

8) Boris Vian – “Escritos Pornográficos” (1980)

“(…) mas, ao mesmo tempo que um peso que me pareceu considerável me oprimia o peito, eu tinha a sensação de que meu sexo todinho estava mergulhado em uma caverna quente e estranhamento móvel, e que retirava daquela excitação para ele desconhecida um aumento de força e de volume absolutamente anormal. Recobrando pouco a pouco a consciência, dei-me conta de que meu nariz e minha boca eram aflorados por uma penugem elástica; de que um odor peculiar, um pouco estonteante, me entrava pelas narinas; então levantando as mãos, dei com dois globos lisos e sedosos que estremeceram quando os toquei e que se soergueram um pouco, como o que, ao perceber uma certa umidade sobre meu lábio superior, lambi aquela umidade e minha língua penetrou numa fenda carnuda e ardente que empreendeu naquele instante uma longa série de contrações. Sorvi o sumo suculento que passou a me escorrer para a boca e nesse instante dei-me conta de que havia alguém sobre o meu corpo, num sessenta-e-nove, roendo meu membro, enquanto eu, de outro lado, lhe devolvia a amabilidade.”

“Escritos Pornográficos”, Boris Vian, Brasiliense, 1985, tradução de Heloisa Jahn.

TREPADA NOSTÁLGICA

9) Pierre Louys – “Esse Obscuro Objeto do Desejo” (1898)

“Eu tinha quinze anos, meu amigo, nesse momento da minha vida. Atrás de mim, vinte anos de amor se desvaneciam como um sonho. Tive a ilusão absoluta de ir, pela primeira vez, colar meus lábios nos lábios de uma mulher e sentir um corpo jovem e ardente vergar e pesar no meu braço.

Subindo um pé numa pedra e com o outro nas grades recurvadas, entrei em casa dela como um apaixonado de teatro, Abracei-a.

De pé encostada em mim, ela entregava-se a retraía-se ao mesmo tempo.

Unidas pela boca nossas cabeças pendiam para o ombro, de narinas frementes e olhos fechados. Nunca entendi tão bem, na vertigem, no desvario, na inconsciência que me tomava, como é certo falar da “embriaguez do que me tomava, como é certo falar da “embriaguez do beijo”. Não sabia mais quem éramos, nem o que tinha havido, nem o que aconteceria conosco. O presente era tão intenso que o futuro e o passado nele desapareciam. Ela tomava os meus lábios nos seus, queimava em meus braços e eu sentia, através da saia, o seu ventre contra o meu numa carícia despudorada e impetuosa.”

“Esse Obscuro Objeto do Desejo”, Pierre Louys, Marco Zero, 1984, RJ, tradução de Estela dos Santos Abreu.

TREPADA ILUSTRADA

10) Hilda Hilst – “Contos D’Escárnio” (1990)

“Foi espantoso. Ao redor do buraco de Josete, tatuadas com infinito esmero e extrema competência estavam três damas com seus lindos vestidos de babados. Uma delas tinha na cabeça um fino chapéu de florzinhas e rendas.

não acredito no que estou vendo, Josete, você tatuou à volta do seu cu para quê?

homenagem a Pound, Crassinho

mas isso deve ter doído um bocado!

the courageous violent slashing themselves with knifes (que quer dizer: os violentos corajosos cortando-se com facas. Continuação do Canto XV).

coma meu cuzinho, coma meu bem, andiamo, andiamo (cacoetes de Pound)

Aí achei o cúmulo. ‘Jamais, meu amor, machucaria essas lindas damas”. Josete começou a chorar.

ó, Crasso, você é o primeiro homem a quem eu mostro esse mimo, essa delicadeza, essa terna homenagem ao meu poeta, andiamo, andiamo in the great scabrous arse-hole (no grande escabroso olho do cu)

Aí pensei: essa maldita louca vai começar a choramingar mais alto e o prédio inteiro vai ouvir. Enchi-me de coragem e estraçalhei-lhe o rabo com inglesas ou americanas (Who knows?) e babados e o chapéu, não naturalmente sem antes lhe tapar a boca, porque tinha certeza que ela ia zurrar como um asno.”

“Contos D’Escárnio”, Hilda Hilst, Sciliano, 1990, SP.

TREPADA PENITENTE

11) Marquês de Sade – “Justine” (1791)

“Dizendo isso, o monge segura com uma das mãos a cabeça da vítima, enfia-lhe a língua na boca e a comprime de tal forma que é impossível não sentir seu pau roçar a xoxota da moça. Mas, como que aterrorizado por esta infidelidade a seu culto predileto, o italiano imediatamente volta-se por trás dela e aplica enfim o beijo mais ardente… mais abrasador nestas nádegas iluminadas pelos vigorosos tapas que as mortificam. Depois entreabre-as, dardeia com a língua o furo mignon, saboreia a volúpia em todos os aspectos, farta-se de lubricidade tenebrosa, sempre masturbado por seu gitão que não o larga desde o começo deste ato escandaloso, chegando ao ponto de fazer o monge gozar; este, apercebendo-se que sem faltar com seus confrades ser-lhe-á impossível ir mais longe, pede a Justine que se levante e o siga… o resto da penitência se fará no interior…”

“Ciranda dos Libertinos”, Marquês de Sade, Max Limonad, 1988, SP, organização e tradução de L. A. Contador Borges.

TREPADA SINESTÉSICA

12) Raduan Nassar – “Um Copo de Cólera”(1978)

“(…) mas assim que ela deixou o quarto e foi por instantes até o banheiro, tirei rápido a calça e a camisa, e me atirando na cama fiquei aguardando por ela já teso e pronto, fruindo em silêncio o algodão do lençol que me cobria, e logo eu fechava os olhos pensando nas artimanhas que empregaria (das tantas que eu sabia), e com isso fui repassando sozinho na cabeça as coisas todas que fazíamos, de como ela vibrava com os trejeitos iniciais da minha boca e o brilho que eu forjava nos meus olhos, onde eu fazia aflorar o que existia em mim de mais torpe e sórdido, sabendo que ela arrebatada pelo meu avesso haveria sempre de gritar ‘é esse canalha que eu amo’, e repassei na cabeça esse esse outro lance trivial do nosso jogo, preâmbulo contudo de insuspeitadas tramas posteriores, e tão necessário como fazer avançar de começo um simples peão sobre o tabuleiro, e em que eu, fechando minha mão na sua, arrumava-lhe os dedos, imprimindo-lhes coragem, conduzindo-os sob meu comando aos cabelos de meu peito, até que eles, a exemplo dos meus próprios dedos debaixo do lençol, desenvolvessem por si só uma primorosa atividade clandestina, ou então, em etapa adiantada, depois de criteriosamente vasculhados nossos pelos, caroços e tantos cheiros, quando os dois de joelhos medíamos o caminho mais prolongado de um único beijo, nossas mãos em palma se colando, os braços se abrindo num exercício quase cristão, nossos dentes mordendo ao outro a boca como se mordessem a carne macia do coração (…)”

“Um Copo de Cólera”, Raduan Nassar, Companhia das Letras, 1992, SP.

TREPADA DOMINADORA

13) Dalton Trevisan – “Ah. é?” (1994)

“Blusa branca de renda e saia azul, estende-se ao lado dele. Olha-a na penumbra e sorri. Afaga o longo cabelo dourado. Desabotoa a blusa. Tira o sutiã – sabe o que é um peitinho de quinze anos?

Ela um passarinho morto. Mas o coração aos pulos. O que é que ele quer? Cada vez mais perto.

– Nunca teve namorado?

– Credo, João.

Beijo molhado de língua. De mim o que fazendo? Ele abre o fecho da saia. Só de calcinha. Toda fria, pesada, mole. O peitinho, como bate. E começa a chorar.

– Quero ir embora.

– Seja bobinha. Já passa.

Ao tirar a calcinha. ele rasga.”

“Ah, é?”, Dalton Trevisan, Record, 1994, RJ.

TREPADA SUBMISSA

14) Sérgio Sant’Anna – “O Vôo da Madrugada” (2003)

“Noutro momento do conto obscuro, branco é o homem e negra a mulher. No quarto dela, diante de um espelho, ela se põe aos pés dele e chupa o seu pau. Não dizem nada, apenas se olham no espelho – o homem com o rosto e as mãos crispadas, estas apoiadas na cabeça da mulher – mas ambos sabem que pensam mais ou menos a mesma coisa. Que uma mulher chupando um homem de pé é um dos maiores gestos de submissão que existe, ainda mais sendo ele branco e ela negra, mas a grande voluptuosidade e desejo vêm justamente dessa submissão e dessa diferença.”

“O Vôo da Madrugada”, Sérgio Sant’Anna, Companhia das Letras, 2003, SP.

TREPADA NINFETÔMANA

15) Vladimir Nabokov – “Lolita” (1955)

“Era a mesma criança: os mesmos ombros frágeis, cor de mel, as mesmas costas flexíveis, nuas e sedosas, os mesmos cabelos castanho-avermelhados. O mesmo lenço de cabeça, pintalgado de preto, atado em torno do peito, ocultava de meus olhos de macaco velho, mas não da névoa de minha lembrança de rapaz, os seios juvenis que eu acariciara num dia imortal. E, como se eu fosse a aia de uma princesinha de conto de fadas (perdida, raptada, descoberta em andrajosos trajes ciganos através dos quais sua nudez sorria para o rei e seus cães de caça), reconheci, em seu flanco, a minúscula pinta marrom-escura. Com respeitoso pasmo e deleite (o rei a chorar de alegria, as trombetas a soar, a aia embriagada de felicidade), vi-lhe de novo o encantador e retraído abdômen, onde minha boca, a descer-lhe pelo corpo, pousara um momento; e aquelas ancas infantis, sobre as quais eu beijara a marca crenulada deixada pelos shorts, naquele louco dia imortal, atrás dos Roches Roses. Os vinte e cinco anos que eu vivera desde então diminuíram até chegar a um ponto palpitante – e desapareceram.”

“Lolita”, Vladimir Nabokov, Civilização Brasileira, 1959, RJ, tradução de Brenno Silveira.

TREPADA BÉLICA

16) Rubem Fonseca – “A Coleira do Cão” (1965)

“O rosto limpo, toda ela crua, pura – você não conseguia dar um beliscão nela, de tal maneira era esticada a sua pele. Pele? ela não tinha pele, ela só tinha carne, uma carne firme, em todas as partes do corpo, note bem: matava uma pulga espremendo-a com a unha do meu polegar de encontro a barriga dela, se quisesse, tão infernal que me dava vontade de lhe dar cabeçadas no corpo, já que não podia mordê-la. E eu dava cabeçadas no ventre rijo dela, curvado como um touro que quisesse voltar para o verde útero bovino de sua mãe, um útero que fosse Deus e o Nada. E ela segurava minha cabeça dirigindo seus arremessos – como os de um aríete que fosse trespassá-la rompendo as portas de sua carne – e ria até que nos embolávamos suados e eu sentia o gosto de suor dela na minha boca, nosso suor estalando entre nossas barrigas, o suor empapando nossas pestanas, vaidoso por suar tanto, orgulhoso pelo longo tempo que ficava dentro dela.”

“Contos Reunidos”, Rubem Fonseca, Companhia das Letras, 1995, SP.

TREPADA INTELECTUAL

17) Julio Cortázar – “O Jogo da Amarelinha” (1964)

“A Maga surgira certa tarde na rue de La Tombe-Issoire, trazia-me sempre uma flor, um cartão-postal de Klee ou de Miró e, quando não tinha dinheiro, escolhia uma folha de plátano no parque. Naquela época, eu costumava procurar arames e caixotes vazios nas ruas, de madrugada, e fabricava móveis, máquinas inúteis que a Maga me ajudava a pintar, móbiles que giravam sobre as estufas. Não estávamos apaixonados, fazíamos amor com um virtuosismo desligado e crítico, mas sempre caíamos, depois, em terríveis silêncios. A espuma dos copos de cerveja ia ficando como estopa, amornando e contraindo-se, enquanto nos olhávamos e sentíamos que chegara o momento. A Maga acabava por se levantar e dava voltas inúteis pelo quarto. Mais de uma vez, eu a vi admirar seu corpo no espelho, segurar os seios com as mãos, como nas estatuetas sírias, e passar os olhos pela sua pele numa lenta carícia. Nunca consegui resistir ao desejo de pedir que se aproximasse, sentindo-a curvar-se pouco a pouco sobre mim, desdobrar-se outra vez, depois de ter estado por um momento tão só e tão apaixonada diante da eternidade de seu corpo.”

“O Jogo da Amarelinha”, Julio Cortázar, Civilização Brasileira, 1999, tradução de Fernando de Castro Ferro.

TREPADA PSICODÉLICA

18) José Agrippino de Paula – “Panamérica” (1967)

“O corpo de Marilyn Monroe se ajustou ao meu e os cabelos louros se introduziram nos meus cabelos e prenderam a minha cabeça. A união continuou e eu preguei a minha boca à boca de Marilyn e ela introduziu a sua língua entre os meus dentes e eu introduzi a minha língua na sua boca úmida. Eu esmagava o meu rosto de encontro ao rosto de Marilyn, e ela me abraçou retendo o meu corpo com os seus braços que me envolviam e mantinham o meu peito colado aos seios de Marilyn. Depois eu senti o meu sexo rígido e pontiagudo penetrando na vagina úmida de Marilyn, e a sua barriga estreitamente unida à minha e a sua vagina retendo e apertando o meu membro, e depois as suas duas pernas me envolveram e o meu corpo se contraiu aderindo ao corpo de Marilyn e eu e ela gemíamos de dor e prazer.”

TREPADA ANIMAL

19) Robert A. Wallace – “O Sexo Entre os Animais” (1980)

“O namoro de rinocerontes é algo de muito violento e perigoso. A partir do instante em que a fêmea aceita o macho, porém, este se revela extremamente amoroso, galgando o lombo dela, pouco a pouco, de ejaculação em ejaculação, à medida que entra em sua carne cada vez mais profundamente, até a conclusão apoteótica, em que se joga todo sobre ela, com as quatro patas fora do chão.”

Tradução de Carlos Sussekind.

TREPADA DANÇANTE

20) Guillaume Apollinaire – “As Onze Mil Varas” (1907)

“A espanhola era uma soberba jovem convenientemente desconjuntada. Olhos de azeviche brilhavam em seu rosto pálido de um oval perfeito. Suas ancas eram arredondadas e as lantejoulas de sua roupa ofuscavam a visão.

O toureiro, esbelto e robusto, também retorcia uma garupa cuja virilidade devia sem dúvida ter algum proveito.

Essa interessante dupla lançou inicialmente para o salão, com a mão direita, enquanto a esquerda repousava sobre a anca arqueada, um par de beijos que fizeram furor. Depois dançaram lascivamente no estilo de seu país. Em seguida, a espanhola levantou a saia até o umbigo e prendeu-as de forma a ficar desnuda até o rego umbilical. Suas pernas alongadas estavam envoltas em meias de seda vermelha que subiam até três quartos das coxas. Atavam-se ali aos espartilhos através de ligazinhas douradas, as quais vinham se enlaçar às sedas que sustentavam uma mascarilha de veludo negro colocadas sobre as nádegas de modo a disfarçar o buraco do cu. A boceta estava oculta por um tosão negro azulado em caracóis.”

Tradução de Hamilton Trevisan.

TREPADA RAPIDINHA

21) D. H. Lawrence – “O Amante de Lady Chatterley” (1928)

“Ele desnudou também a frente de seu corpo, e ela sentiu a sua pele nua sobre a dela à medida que ele a penetrava. Por um momento ele ficou imóvel dentro dela, túrgido e palpitante. Quando, então, começou a se mover, no súbito e inevitável orgasmo, novas estranhas emoções nela despertaram, ondulando em seu interior. Ondulando, ondulando, ondulando, como uma acariciante sucessão de leves chamas, leves como plumas, deslizando para pontos de luz, delicadas, delicadas e fundindo-se com toda a sua fluidez interior. Era como sinos, cada vez soando mais e mais alto, até o paroxismo. Ela não percebeu os gritinhos arrebatados que deu no final. Mas tudo acabou cedo demais, cedo demais, e ela não conseguia mais provocar sua própria conclusão com sua própria atividade. Aquilo era diferente, diferente. Ela nada podia fazer. Não conseguia enrijecer e prendê-lo, para sua própria satisfação. Podia apenas esperar, esperar e gemer por dentro ao senti-lo se retirando, se retirando e encolhendo, chegando ao terrível momento em que deslizaria para fora dela e iria embora.”

Tradução de Celina Portocarrero.

TREPADA AUTORITÁRIA

22) Zadie Smith – “Sobre a Beleza” (2005)

“Me come“, disse Victoria uma vez, e depois outra e outra. Howard podia escutar o tilintar e o murmúrio do velório da mãe daquela garota no andar inferior. Segurando a própria testa, posicionou-se por trás dela. Ao menor toque, ela uivava e parecia tremer de paixão pré-orgásmica, mas apesar disso estava, como Howard descobriu na segunda tentativa, completamente seca. No momento seguinte ela tinha lambido a mão e a trouxera para trás. Esfregou-se intensamente e depois esfregou Howard. Obediente, sua ereção voltou. “Mete dentro de mim”, disse Victoria. “Me come. Mete em mim até o talo”.

Tradução de Daniel Galera.

TREPADA ESPADACHIM

23) Pauline Réage – “História de O” (1954)

“Monique não esperou outras ordens, ajoelhou-se e curvou-se, com o peito de encontro ao revestimento, segurando os dois lados do pufe com as duas mãos. Ela permaneceu imóvel, enquanto o rapaz mandava Jeanne suspender a saia vermelha. Jeanne teve então que desabotoá-lo, ele ordenou isso de forma brutal, e tomar nas mãos aquela espada de carne, que tão cruelmente havia, pelo menos uma vez, trespassado O. Ela inflou e endureceu dentro da palma fechada, e O viu as pequeninas mãos de Jeanne abrirem as coxas de Monique, no interior das quais o rapaz ia penetrando, lentamente, em pequenos solavancos que a faziam gemer. O outro homem, que olhava sem dizer nada, fez sinal a O para que se aproximasse e, sem parar de olhar, debruçou-a sobre um dos braços da poltrona – a saia suspensa lhe oferecia a totalidade das ancas – e tomou-lhe todo o sexo com a mão.”

Tradução de Hortência Santos Lencastre.

TREPADA ROMANA

24) James Salter – “Um Esporte e Um Passatempo” (1967)

“O rádio está tocando. Eles se despem à luz suave do dia de inverno. Dean está um pouco envergonhado de sua condição. Seu pau fica duro sempre que ele olha para ela. Não consegue evitar. Seu maior desejo é tirá-la do chão com ele, exultante, é alçá-la aos raios solares, à luz das estrelas, onde ela possa ver o mundo. Começam a dançar um pouco, nus, à meia-luz do cair da tarde, a música tênue e estrangeira, os seus pés descalços sobre o tapete. Então fazem amor, ela montada sobre ele, à moda predileta dos poetas romanos, como ele lhe informa. Ele está deitado e, de baixo, fita-a no alto, as mãos apertadas em torno dos seus tornozelos. O cheiro rico do corpo dela se derrama sobre ele. No fundo daquilo tudo, o mudo triângulo em que ele está implantado e onde os olhos dele se deixam ficar.”

Tradução de Sonia Moreira.

TREPADA CICLÍSTICA

25) Ana Cristina Cesar – “Cenas de Abril” (1979)

“Acordei com coceira no hímen. No bidê com espelhinho examinei o local. Não surpreendi indícios de moléstia. Meus olhos leigos na certa não percebem que um rouge a mais tem significado a mais. Passei pomada branca até que a pele (rugosa e murcha) ficasse brilhante. Com essa murcharam igualmente meus projetos de ir de bicicleta à ponta do Arpoador. O selim poderia revivar a irritação. Em vez decidi me dedicar à leitura.”

[ Seleção feita sob encomenda da revista Playboy, publicada aqui na íntegra ]