sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Escrever





De pé, à mão, de encontro, por choque, deitado.

VIA


1. Rubem Alves
Método é o caminho que as ideias têm de seguir, a marcha das ideias como soldados em parada. Mas as minhas ideias não marcham, elas dançam. Estórias, poemas, músicas pertecem à classe das entidades semelhantes às nuvens que não se deixam prender. Elas pousam por vontade própria nos ombros dos escritores, dos poetas, dos músicos. Acho que foi Picasso que disse: ‘Eu não procuro, eu encontro'”.
2. Mia Couto
“Porque, numa certa altura, eu achei que precisava contar algumas histórias, que eram tão poéticas, tão carregadas da oralidade daquele universo rural moçambicano, onde se coloca de uma maneira diferente essa diferenciação entre prosa e poesia. Há ali outro modo de se olhar, de sentir o mundo, que passa quase sempre pela realização da metáfora. Então, eu percebi que, se eu conseguisse tomar pra mim essa oralidade do mundo rural, conseguiria contar histórias em prosa”.
3. Machado de Assis
“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma coisa se escreveu. Somos contos contando contos e nada mais”.
4. Ferreira Gullar
“Meus poemas nascem de um choque emocional qualquer. Por exemplo, “quando escrevi o poema sobre o Vietnã, eu acordei, comecei a ler o jornal com as notícias sobre a violência da guerra. À porta da minha casa havia uma feira. Quando vi aquelas pessoas se dirigindo para as suas casas, com as cestas carregadas de verduras e frutas, deu-se o choque emocional que por si provoca as palavras. Eu não as escolho, elas jorram”.


5. Pablo Neruda
“Com papel e tinta. Pelo menos essa é a minha receita”.


6. Truman Capote
“Sou um autor completamente horizontal. Não consigo pensar se não estiver deitado, ou na cama ou estirado num sofá, com cigarros e café à mão. Escrevo à mão, depois faço a revisão também à mão. Quando escrevo penso em mim mesmo, e o tempo gasto acerca da colocação de uma vírgula, o peso de um ponto e vírgula me irritam de maneira insuportável”.


7. Ernest Hemingway
“Escrevo de pé, ereto, com sapatos mocassins folgados. Minha produção diária de palavras varia de quatrocentos e cinquenta a duas mil e quinhentas. No dia seguinte ao pico de criação de palavras, vou pescar; assim não me sinto culpado. Reescrevo sempre o que fiz. Reescrevi o final de Adeus às Armas, a última página do livro, trinta e nove vezes antes de ficar satisfeito. Por quê? A busca pelas palavras certas”. 
8. William Falkner
“Tudo de eu preciso é de um (?) e algum papel. Não existe um jeito mecânico de realizar a escrita, não existe atalho. O jovem escritor será um tolo se seguir uma teoria. Ensine a si mesmo a partir de seus próprios erros; as pessoas aprendem somente pelo erro”. 
9. Paul Auster
“Sempre escrevi à mão. Quase sempre com uma caneta tipo tinteiro, mas às vezes a lápis – especialmente para fazer correções. Se fosse capaz de escrever numa máquina ou no computador, eu escreveria. Mas teclados sempre me intimidaram. Nunca consegui pensar direito com meus dedos naquela posição. Uma caneta é um instrumento muito mais primitivo. A gente sente as palavras saindo do corpo para, então, gravá-las na página. Escrever sempre teve esse caráter tátil para mim. É uma experiência física. Escrevo sempre em cadernos. E tenho fetiche em particular pelos cadernos quadriculados – aqueles com quadrinhos no lugar das linhas”. 
10. Fernando Pessoa
“Escrevo de pé. Num jacto e à maquina de escrever. Escrevo trinta e tanto poemas a fio, numa espécie de êxtase. Ouço, dentro de mim, as discussões e as divergências de critérios dos meus heterônimos. Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos”.



(img> Multiple Warheads, Brandon Graham)