segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Atada

Escrever com liberdade. Se divertindo. Sem medo de ser feliz. É possível? Com tanta gente julgando cada vírgula, cada resma de sentido? Não sei. E pra quê escrevo? Entre tantas possibilidades, por que escolho aquela que me trás mais um sofrimento? Além das contas para pagar, o intestino preso. Por quê? Segundo encontro e lá estou eu rodeado por eles. Quase todos. Mas estão lá. Voltaram. Sinceramente achei que não voltariam. Na verdade, achei que não viriam no primeiro encontro. Eu ficaria sentado no Café, sem dinheiro para pagar a água. Mas eles vieram. Todos. E estão aqui, de novo. Olho nos cantos das bocas e reviso o que sei de cada um deles. De alguns mais, outros quase nada. Mas o suficiente para admirá-los, apostar cada segundo da minha crença no talento majestoso que guardam nas pontas dos dedos. E como são parecidos! Não imaginam o quanto. Irão descobrir. Em alguns casos, se surpreender. Desta vez não peço uma água. Há um novato e beberico da soda dele, quando a garganta pede. Vão compondo. Criando. Em volta uma névoa de cigarro e futuro. Vou me sentindo pequeno, mas farto. A percebo olhando pelo vidro. Eles estão lá dentro, mais velhos, mais certos. Trazem as cicatrizes do sucesso. O grupo mudou um pouco, mas se mantém. Não ostentam a ansiedade da auto-afirmação. Um deles pede uma rodada para todos, resultado do último prêmio. A minha respiração no vidro nubla a falta que aquilo me faz. Mesmo que só ouvindo, penso em como foi bom estar por perto, em como as coisas aconteceram rápido. A foto na parede parodia a imortalidade tão vitral. Resolvo entrar, eles não percebem a minha chegada. Um ou outro quer saber quem sou. Ela levanta e me abraça forte, reconhecendo os olhos dele nos meus. Sussurram minha apresentação, admirados por quem eu represento. Depois vem uma seqüência de cheiros bem conhecidos, mesmo que distantes. Perguntam o que andei fazendo, se já tive outros filhos. Falo de viagens, projetos, falta de assunto. Comentam que o nome é ainda o mesmo. De Segunda. Eu sorrio e penso que tudo poderia ser assim, sempre. Essa nostalgia por algo que eu não sei muito o que é. Mas sinto falta como se algo chorasse por meus olhos. Pergunto se não vão acabar com a tal revista das frases, não deveria ser algo finito? Um brinca que sempre tem uma nova aparecendo. Dou um novo sorriso, com nó. E me levanto. Antes, perguntam de minha mãe, digo que está se recuperando. Pedem desculpas por não terem aparecido, a maioria não soube. Falo que entendo, da correria. Descrevo uma caixinha ond ele guardava as anotações antigas em seus originais. Eles sentem na carne um tempo que eu tive só um vislumbre. Parto. Quase me vendo correr entre as pernas das cadeiras, enquanto eles falavam de literatura com meu pai.

01/12/2008

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