sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Escrever






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A ficção científica costuma ser descrita, até mesmo definida, como extrapolação. Espera-se que o escritor de ficção científica pegue uma tendência ou um fenômeno do presente, purifique-o e intensifique-o para efeito dramático e estenda-o para o futuro. “Se isto continuar, eis o que acontecerá.” Faz-se uma previsão. O método e o resultado assemelha-se aos do cientista que alimenta ratos com grandes doses de suplementos purificados e concentrados, a fim de prever o que pode acontecer às pessoas que comem aquilo em pequenas doses e por um longo período. O resultado parece ser quase sempre câncer. Assim ocorre com o resultado da extrapolação. Obras de ficção científica de estrita extrapolação chegam mais ou menos onde chega o Clube de Roma: em algum ponto entre a extinção gradual da liberdade e a extinção total da vida na Terra.

Isto talvez explique por que muitas pessoas, que não lêem ficção científica, a descrevam como “escapismo”, mas, quando questionadas mais a fundo, admitem que não lêem ficção científica porque é “muito deprimente”.

Qualquer coisa levada a seu extremo torna-se deprimente, quando não cancerígena.

Felizmente, embora a extrapolação seja um elemento da ficção científica seja um elemento da ficção científica, não se trata, de forma alguma, de sua essência. A extrapolação é racional e simplista demais pra satisfazer a mente criativa, seja a do leitor ou a do escritor. Equilíbrio é o tempero da vida.

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Trecho da Introdução de Ursula Le Guin em "A Mão Esquerda da Escuridão" Veio DAQUI

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