Arquiteto ou jardineiro
9 dicas de George R. R. Martin via homoliteratus
1. Arquiteto ou jardineiro? Que tipo de escritor você é?
Eu penso que existem dois tipos de escritores, os arquitetos
e os jardineiros. Os arquitetos planejam tudo antes do tempo, como um arquiteto
constrói uma casa. Eles sabem quantos aposentos a casa terá, que tipo de
telhado terá, onde os fios estarão passando, que tipo de encanamento terá… Eles
têm a coisa toda projetada e desenhada antes mesmo de pregarem a primeira
tábua. Já os jardineiros cavam um buraco, jogam uma semente e regam. Eles meio
que sabem que tipo de semente é; eles sabem se plantaram uma semente de
fantasia ou uma semente de mistério ou o que quer que seja. Mas conforme eles
regam e a planta cresce, eles não sabem quantos ramos ela terá, eles descobrem
isso conforme ela cresce. Eu sou muito mias um jardineiro do que um arquiteto.
2. Exercite seus músculos!
A coisa mais importante para qualquer aspirante a escritor,
acredito, é ler! E não apenas o tipo de história que você está tentando
escrever. Você precisa ler de tudo. Leia ficção, não-ficção, revistas, jornais,
história, biografias, romances de mistério, fantasia, ficção científica,
clássicos da literatura, literatura erótica, aventura, sátira. Cada escritor
tem algo a ensinar, seja para o bem ou para o mal (Sim, você pode aprender a
partir de livros ruins, assim como de livros bons – o que não fazer). E
escrever. Escrever todos os dias, mesmo que seja apenas uma ou duas páginas.
Quanto mais você escreve, melhor você vai escrever. Mas não escreva no meu
universo, ou no de Tolkien, ou no de Marvel, ou no de Star Trek, ou em qualquer
outro universo “emprestado”. Todo escritor precisa aprender a criar seus
próprios personagens, mundos e configurações. Usar o universo de outra pessoa é
uma maneira preguiçosa… Se você não exercitar seus músculos literários, você
nunca vai desenvolvê-los.
3. “Escreva sobre o que você sabe”… Mas afinal, o que você
realmente sabe?
Nas aulas de redação (escrita criativa), os professores vão
dizer: “Escreva sobre o que você sabe.”. Isso é muitas vezes mal interpretado,
indicando que você deva escrever uma autobiografia. Como um estudante de
literatura inglesa escrevendo uma história em que o herói é um estudante de
literatura inglesa. Parece que, ligeiramente, desfavorece a ficção científica,
a fantasia, e assim por diante, uma vez que nenhum de nós é realmente um
bárbaro, um cavalheiro, um Lord ou mesmo um camponês. Mas eu penso que você
deva interpretar o “Escreva sobre o que você sabe” num sentido mais amplo.
Estamos falando de verdade emocional. Estamos falando de alcançá-la para fazer
seus personagens reais. Se você for escrever sobre um personagem presenciando
um ente querido morrer, você deverá buscar em si mesmo e questionar: “Você se
lembra de já ter perdido alguém especial?”. Mesmo que seja somente um cachorro
que você amava como um filho ou coisa parecida. Explore essa veia de energia
emocional. De certa forma, não é muito diferente do método que os atores usam.
Nós observamos as outras pessoas pelo lado de fora. A única pessoa que
realmente conhecemos por dentro e por fora é nós mesmos, e temos que buscar
dentro de nós mesmos para encontrarmos o poder que faz uma grande ficção real.
4. O mundo por outros olhos…
Para entrar na pele deles [dos personagens], eu tenho que me
identificar com eles. Isso inclui até mesmo aqueles que são uns verdadeiros
bastardos, que são desagradáveis, mal entendidos, humanos profundamente falhos
com sérios problemas psicológicos. Até mesmo eles. Quando eu entro na pele
deles e olho através de seus olhos, eu tenho que sentir uma certa – se não
simpatia, mas empatia por eles. Eu tenho que tentar perceber o mundo como eles
o fazem, e isso gera uma certa afeição por eles.
5. Você escreve o que você quer ler
Quanto à ‘muita descrição’, bem, as opiniões divergem. Nós
escrevemos os livros que queremos ler. E eu quero ler livros que são ricamente
texturizados e cheios de detalhes sensitivos, livros que me façam sentir como
se estivesse experimentando a história e não apenas lendo-a. O enredo é apenas
um dos aspectos sobre contar uma história, e não o mais importante. É a jornada
que importa, não o quão rápido você chega ao destino.
6. Chore, ria, grite, sussurre, ame e odeie! Seja lá o que
for… emocione!
Toda ficção, se for bem sucedida, vai apelar para as
emoções. Emoção é o que realmente a ficção é. Isso não quer dizer que a ficção
não pode ser reflexiva ou apresentar algumas ideias interessantes ou
provocativas que nos façam pensar. Mas se você quer apresentar um argumento intelectual,
a não-ficção é a melhor ferramenta. Você pode colocar um prego com um sapato,
mas um martelo é a melhor ferramenta para isso. A ficção é sobre a repercussão
emocional, sobre nos fazer sentir as coisas em um nível primitivo e profundo.
7. A literatura como vivência dos sonhos…
A melhor fantasia é aquela escrita na linguagem dos sonhos.
Ela é viva como os sonhos são vivos e vai além do que é real… por um momento,
pelo menos. Aquele momento mágico antes de acordarmos.
Por que os nossos sonhos se tornam menores quando eles
finalmente se tornam realidade? Eu acredito que nós lemos fantasia para poder
encontrar as cores [da vida] novamente. Para provar temperos fortes e ouvir as
canções que as sereias cantavam. Há algo de velho e verdadeiro na fantasia que
fala com algo profundo dentro de nós, com a criança que sonhou um dia caçar nas
florestas da noite, festejar sob as colinas ocas e encontrar um amor que
durasse para sempre em algum lugar ao sul de Oz e ao norte de Shangri-La.
8. Um mundo sem sexo?!
A vida é repleta de sexo, ou deveria ser. Por mais que eu
admire Tolkien – e eu o admiro, ele foi um gigante da fantasia e da literatura,
e penso que ele escreveu um livro magnífico que será lido por muitos anos –
você deve se perguntar de onde todos os Hobbits vieram, desde que você não tenha
que imaginá-los fazendo sexo, não é? Bem, sexo é uma parte importante de quem
somos. Ele nos impulsiona, nos motiva, algumas vezes nos leva a fazer coisas
muito nobres e em outras nos leva a fazer coisas incrivelmente estúpidas.
Deixe-o de fora e você tem um mundo incompleto.
9. Para concluir, você gosta de cachorro quente? Não perca
essa dica!
Em minha opinião, escrever é como fazer salsicha. Todos
vocês serão mais felizes se vocês apenas comerem o produto final sem saber o
que se passou anteriormente com ele.
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