sábado, 12 de janeiro de 2013

Escrever






Estudioso da natureza, (Rubem) Braga descobriu, para sua decepção, que todas as cores que o pavão ostenta não são dele. O pavão, escreveu ele numa crônica de 1958, é "um arco-íris sem plumas". Não há, observa o cronista, pigmentos em sua cauda, apenas bolhas d’água em que a luz se fragmenta. Disso ele tirou uma lição: esse também é o luxo do grande artista, "atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos". Braga, analisa Humberto Werneck, cronista do Estado, "está falando de si mesmo, pois do mínimo ele extraía o máximo". E cita, como prova, a primeira reportagem do escritor, publicada no mineiro Diário da Tarde, em 7 de março de 1932. Nela, o jovem repórter, então com 19 anos, transforma uma banal exposição canina numa crônica sobre um homem condenado por matar um cachorro no Espírito Santo. Como se vê, não foi Tom Wolfe o inventor do "new journalism" - que trata os fatos como literatura -, mas o velho Braga.



de Antonio Gonçalves Filho sobre Rubem Braga no caderno Sabático do Estado. Imagem DAQUI da Enciclopédia Nordeste.

Nenhum comentário:

Postar um comentário