quinta-feira, 11 de agosto de 2011


A goteira na pia insiste. Terceira ou quarta geração de torneira só essa semana, mas é como se a água estivesse afiada, um britadeira infinita que não descansa. Fico pensando se quando saio ela vai dormir, juntar energias para minha volta. Ele está voltando, ele está voltando! Há um resmungo na pia, irritada pelo martelar, mas que parece diminuir quando chego perto. No quarto, no entanto, é como se a pia gritasse a cada ribombar. Por que as torneiras não tem o bico direcionado ao ralo? Seria uma ideia excelente, ao menos iria goela abaixo e se o encanamento ficasse engasgado logo eu enterrava a pia, tinha motivo para tapar o buraco da torneira. Olhe o tamanho da minha barriga, quando foi que ela começou a crescer? Pareço um conjunto anexo a ela, como se ela me carregasse. De lado a gordura se espalha pela cama, seu umbigo fica olhando o cachorro deitado no tapete com a orelha branca tremelicando ao toque da brisa morna que a janela insiste em deixar entrar. Odeio dormir a tarde, é um sono enlameado, mas é o único momento em que o barulho de fora, da vizinha que acredita que sabe cantar, dos caminhões na avenida lá longe e dos moleques jogando bola na rua quase consegue abafar os zurros da água.

Nenhum comentário:

Postar um comentário