quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ignorância





Não consigo escrever sobre amenidades. Tudo me é tão intenso e viral ou, seria visceral. A merda do cachorro na calçada, pregando na sola do meu sapato e todos dizendo ser um sinal de entrada de dinheiro. Levar meu carro para lavar e em seguida cair uma tempestade, mesmo que até a retirada do lava-rápido, o dia estivesse ensolarado. Descobrir a ausência da frente do som do carro, guardado no porta-luvas por uma semana. Até então, não sentira sua falta. E não conseguir lembrar-se de todos os lugares onde o carro ficou desamparado de mim. Eu não sei falar de amenidades. Meu salário que não chega ao fim do mês e as cobranças que chegam tão rápido. O tapaço que dei na cara de alguém no passado, voltando na cara de meu filho. Não consigo pensar em amenidades. A revista que assino e me chega quase todos os meses, porque algum vizinho viu a capa de seu interesse e a levou consigo. Deixar um depoimento no Orkut, íntimo e o receptor, o publicar. Levantar todos os dias à mesma hora e só perdê-la no dia em que não se podia. Eu não sei o que são amenidades.

(Denize Muller)

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