25 Trepadas Literárias
(Organizado por Joca Reiners Terron... AQUI)
REPADA EPISTOLAR VAPOROSA
1) James Joyce – “Cartas a Nora Barnacle” (1909)
“Minha doce Norazinha putazinha. Fiz o que me pediste, pequena
sacana, e me esporrei duas vezes enquanto lia tua carta. Estou feliz de
ver que gostas de ser fodida no cu. Sim, lembro-me agora daquela noite
em que tanto tempo te fodi por trás. Foi a foda mais suja que jamais te
dei, meu bem. Mantive a pica metida em ti horas a fio, entrando e saindo
de teu traseiro virado para cima. Sentia tuas nádegas gordas e suadas
debaixo de meu ventre e via teu rosto em fogacho e teus olhos aloucados.
Cada vez que eu metia, tua língua despudorada se punha de fora de teus
lábios e se uma foda era maior e mais violenta que as outras, saíam
peidos gordos e úmidos espocando por tuas ancas. Naquela noite, bem, tua
bunda estava cheia de peidos, e com a foda eu os fiz sair, grandes e
gordos, prolongados e cheios de vento, estalinhos rápidos e alegres e
uma porção de peidinhos pequeninos e travessos que terminavam num jorro
demorado por teu buraco. É maravilhoso foder uma mulher peidorreira
quando cada metida faz sair um. Penso que eu reconheceria um peido de
Nora em qualquer lugar. Penso que poderia distinguir o dela numa sala
cheia de mulheres peidando. É um barulhinho bem de menina, não como o
peido molhado e cheio de vento que imagino ser o das esposas gordas. É
inesperado e seco e indecente como o que uma menina atrevida soltaria de
pândega num dormitório de colégios à noite. Espero que Nora nunca pare
de soltar peidos na minha cara para que eu fique conhecendo também o
cheiro deles.(…)”
“Cartas a Nora Barnacle”, Massao Ohno, 1998, SP, tradução de Mary Pedrosa.
TREPADA EPISTOLAR LÍQUIDA
2) James Joyce – “Cartas a Nora Barnacle” (1909)
“Dizes que quando eu voltar vais chupar-me até o fim e queres que eu
lamba tua cona, malandrinha depravada. Espero que alguma vez me
surpreendas dormindo vestido, escorregues por cima de mim com um brilho
de puta em teus olhos sonolentos, abras de leve, um por um, os botões de
minha braguilha e tires com delicadeza o peru gordo de teu amante,
enfiando-o na boca e chupando até que ele engorde e fique duro e se
entorne na tua boca. Alguma vez também eu te surpreenderei dormindo,
levantarei tuas saias e abrirei com cuidado tuas calças quentes, e
depois me deitarei quieto ao teu lado e começarei a lamber
preguiçosamente em redor de teus pelos. Começarás a remexer-te
desajeitadamente e então lamberei os lábios da cona de meu amor.
Começarás a gemer e suspirar e balbuciar e peidar de lascívia no teu
sono. Lamberei então cada vez mais depressa como um cão voraz, até que
sua cona seja uma papa viscosa e teu corpo se contorça loucamente.”
“Cartas a Nora Barnacle”, Massao Ohno, 1998, SP, tradução de Mary Pedrosa.
TREPADA SURREALISTA
3) André Breton e Paul Eluard – “A Imaculada Concepção” (1930)
“(…) A língua desenha os lábios, junta os olhos, ergue os seios, cava
as axilas, abre a janela; a boca atrai a carne com todas as suas
forças, naufraga num beijo errante, substitui a boca por ela arrebatada,
é a mistura do dia e da noite. os braços e as coxas do homem estão
ligados aos braços e às coxas da mulher, o vento se mescla à fumaça, as
mãos tomam as impressões dos desejos (…)”
“História da Literatura Erótica”, Alexandrian, Rocco, 1993, RJ, tradução de Ana Maria Scherer e Laurênio de Mello.
TREPADA LÁCTEA
4) Georges Bataille – “História do Olho” (1928)
“Havia no corredor um prato de leite para o gato.
– Os pratos foram feitos para a gente sentar – disse Simone. – Quer apostar que eu sento no prato?
– Duvido que você se atreva – respondi, ofegante.
Fazia calor. Simone colocou o prato num banquinho, instalou-se à
minha frente e, sem desviar dos meus olhos, sentou-se e mergulhou a
bunda no leite. Por um momento fiquei imóvel, tremendo, o sangue subindo
à cabeça, enquanto ela olhava meu pau se erguer na calça. Deitei-me a
seus pés. Ela não se mexia; pela primeira vez, vi sua ‘carne rosa e
negra’ banhada em leite branco. Permanecemos imóveis por muito tempo,
ambos ruborizados.
De repente, ela se levantou: o leite escorreu por suas coxas até as
meias. Enxugou-se com um lenço, por cima da minha cabeça, com um pé no
banquinho. Eu esfregava o pau, me remexendo no assoalho. Gozamos no
mesmo instante, sem nos tocarmos. Porém, quando sua mãe retornou,
sentando-me numa poltrona baixa, aproveitei um momento em que a menina
se aninhou nos braços maternos: sem ser visto, levantei o avental e
enfiei a mão por entre suas coxas quentes.”
“História do Olho”, Georges Bataille, CosacNaify, 2003, SP, tradução de Eliane Robert Moraes.
TREPADA PIONEIRA
5) Giovanni Bocaccio – “Decamerão” (1353)
“Depois de recusar-se várias várias vezes, Alexandre lá se foi
deitar, já despido. O abade acariciou-lhe o peito, e pôs-se a bulir em
seu corpo, carinhosamente, de modo não diverso daquele que as moças
apaixonadas fazem com os seus amados. Alexandre ficou profundamente
maravilhado com o fato. E duvidou de que fosse o abade, assaltado por
amor impulsivo e desonesto, quem se arriscava a acariciar-lhe o corpo
daquela forma. Ou por presunção, ou por algum ato cometido por
Alexandre, o abade logo concebeu clara idéia dessa dúvida. E sorriu.
Despiu rapidamente uma camisola que vestia, segurou a mão de Alexandre,
colocou-a sobre o próprio peito, e disse:
– Alexandre, apague esse tolo pensamento; procure por aqui… assim… Veja o que eu escondo aqui.
Colocando a mão sobre o peito do abade, Alexandre achou dois seios,
pequenos e redondos, duros e delicados, como feitos de marfim. De
pronto, assim que os encontrou e os apalpou, notou que a pessoa que ali
estava era uma mulher. Não aguardando novo convite, procurou logo
abraçá-la, apertá-la ao peito. Nesse momento ela disse:
– Antes que você se aproxime mais intimamente de mim, ouça o que
quero dizer-lhe. Como pode constatar, sou mulher, não homem. Sou
donzela; saí virgem de minha casa. Minha intenção era procurar o papa,
em Roma, para que ele me desse marido. Quer para sua ventura, quer para
minha desdita, a verdade é que vi você outro dia; desde que o vi, fiquei
inflamada de amor, de tal maneira, que creio que outra mulher nunca
amou tanto um homem (…)”.
“Decamerão”, Giovanni Boccacio, Círculo do Livro, S/D, SP, tradução de Torrieri Guimarães.
TREPADA MANUAL
6) Henry Miller – “Trópico de Câncer” (1934)
“À noite, quando olho o cavanhaque de Boris estendido sobre o
travesseiro, fico histérico. Ó, Tânia, onde estão agaora aquela sua
boceta quente, aquelas ligas gordas e pesadas, aquelas coxas macias e
arredondadas? Em meu membro há um osso de quinze centímetros de
comprimento. Tânia, alisarei todas as pregas de sua vulva, cheia de
semente. Mandá-la-ei de volta para seu Sylvester com a barriga doendo e o
útero virado. Seu Sylvester! Sim, ele sabe acender um fogo, mas eu sei
inflamar uma vagina. Enfiarei pregos quentes em você, Tânia. Deixarei
seus ovários incandescentes. Seu Sylvester agora está um pouco ciumento?
Ele senta alguma coisa, não sente? Sente os remanescentes de meu grande
membro. Deixei as margens um pouco mais largas. Alisei as pregas.
Depois de mim, você pode receber garanhões, touros, carneiros, cisnes e
São Bernardos. Pode enfiar pelo reto sapos, morcegos, lagartos. Você
pode defecar arpejos ou amarrar uma cítara sobre o umbigo. Eu estou
fodendo, Tânia, para que você fique fornicada em público, eu fornicarei
privativamente. Arrancarei alguns pelos de sua vulva e os grudarei no
queixo de Boris. Morderei seu clitóris e cuspirei moedas de dois
francos…”
“Trópico de Câncer”, Henry Miller, Ibrasa, 1994, SP, tradução de Aydano Arruda.
TREPADA DESPREVENIDA
7) Anais Nin – “Delta de Vênus” (1969)
“Uma das garotas tinha cerca de dez anos; a outra, doze. Eram
bonitas, tinham grandes olhos negros e aveludados, cabelos compridos e
sedosos, e pele dourada. Usavam vestidos brancos curtos e meias também
brancas. Com agudos gritinhos as duas garotas entravam correndo no
quarto do Barão e se atiravam em sua imensa cama.
Só que o Barão, como muitos homens, sempre despertava com o pênis em
um estado particularmente sensível. Na verdade, ele se sentia muito
vulnerável. Não tinha tempo de se levantar e acalmar sua condição
urinando. Antes que pudesse fazê-lo, as crianças já tinham cruzado
correndo o soalho lustroso e se atirado sobre ele e seu pênis
proeminente, que de certa forma o grande acolchoado azul-claro conseguia
ocultar.
As duas meninas não se importavam com o fato de suas saias ficarem
totalmente levantadas e com o modo como suas esbeltas pernas de
dançarinas se trançavam e pressionavam o pênis dele, intumescido sob a
coberta. Rindo, rolavam sobre o Barão, sentavam-se em cima dele,
montavam-no e o tratavam como se fosse um cavalo, instando para que ele
balançasse a cama com um movimento de seu corpo.”
“Delta de Vênus”, Anais Nin, Círculo do Livro, 1977, SP, tradução de Haroldo Netto.
TREPADA SURPRESA
Boris Vian – “Escritos Pornográficos” (1980)
“(…) mas, ao mesmo tempo que um peso que me pareceu considerável me
oprimia o peito, eu tinha a sensação de que meu sexo todinho estava
mergulhado em uma caverna quente e estranhamento móvel, e que retirava
daquela excitação para ele desconhecida um aumento de força e de volume
absolutamente anormal. Recobrando pouco a pouco a consciência, dei-me
conta de que meu nariz e minha boca eram aflorados por uma penugem
elástica; de que um odor peculiar, um pouco estonteante, me entrava
pelas narinas; então levantando as mãos, dei com dois globos lisos e
sedosos que estremeceram quando os toquei e que se soergueram um pouco,
como o que, ao perceber uma certa umidade sobre meu lábio superior,
lambi aquela umidade e minha língua penetrou numa fenda carnuda e
ardente que empreendeu naquele instante uma longa série de contrações.
Sorvi o sumo suculento que passou a me escorrer para a boca e nesse
instante dei-me conta de que havia alguém sobre o meu corpo, num
sessenta-e-nove, roendo meu membro, enquanto eu, de outro lado, lhe
devolvia a amabilidade.”
“Escritos Pornográficos”, Boris Vian, Brasiliense, 1985, tradução de Heloisa Jahn.
TREPADA NOSTÁLGICA
9) Pierre Louys – “Esse Obscuro Objeto do Desejo” (1898)
“Eu tinha quinze anos, meu amigo, nesse momento da minha vida. Atrás
de mim, vinte anos de amor se desvaneciam como um sonho. Tive a ilusão
absoluta de ir, pela primeira vez, colar meus lábios nos lábios de uma
mulher e sentir um corpo jovem e ardente vergar e pesar no meu braço.
Subindo um pé numa pedra e com o outro nas grades recurvadas, entrei em casa dela como um apaixonado de teatro, Abracei-a.
De pé encostada em mim, ela entregava-se a retraía-se ao mesmo tempo.
Unidas pela boca nossas cabeças pendiam para o ombro, de narinas
frementes e olhos fechados. Nunca entendi tão bem, na vertigem, no
desvario, na inconsciência que me tomava, como é certo falar da
“embriaguez do que me tomava, como é certo falar da “embriaguez do
beijo”. Não sabia mais quem éramos, nem o que tinha havido, nem o que
aconteceria conosco. O presente era tão intenso que o futuro e o passado
nele desapareciam. Ela tomava os meus lábios nos seus, queimava em meus
braços e eu sentia, através da saia, o seu ventre contra o meu numa
carícia despudorada e impetuosa.”
“Esse Obscuro Objeto do Desejo”, Pierre Louys, Marco Zero, 1984, RJ, tradução de Estela dos Santos Abreu.
TREPADA ILUSTRADA
10) Hilda Hilst – “Contos D’Escárnio” (1990)
“Foi espantoso. Ao redor do buraco de Josete, tatuadas com infinito
esmero e extrema competência estavam três damas com seus lindos vestidos
de babados. Uma delas tinha na cabeça um fino chapéu de florzinhas e
rendas.
não acredito no que estou vendo, Josete, você tatuou à volta do seu cu para quê?
homenagem a Pound, Crassinho
mas isso deve ter doído um bocado!
the courageous violent slashing themselves with knifes (que quer dizer: os violentos corajosos cortando-se com facas. Continuação do Canto XV).
coma meu cuzinho, coma meu bem, andiamo, andiamo (cacoetes de Pound)
Aí achei o cúmulo. ‘Jamais, meu amor, machucaria essas lindas damas”. Josete começou a chorar.
ó, Crasso, você é o primeiro homem a quem eu mostro esse mimo, essa delicadeza, essa terna homenagem ao meu poeta, andiamo, andiamo in the great scabrous arse-hole (no grande escabroso olho do cu)
Aí pensei: essa maldita louca vai começar a choramingar mais alto e o
prédio inteiro vai ouvir. Enchi-me de coragem e estraçalhei-lhe o rabo
com inglesas ou americanas (Who knows?) e babados e o chapéu, não naturalmente sem antes lhe tapar a boca, porque tinha certeza que ela ia zurrar como um asno.”
“Contos D’Escárnio”, Hilda Hilst, Sciliano, 1990, SP.
TREPADA PENITENTE
11) Marquês de Sade – “Justine” (1791)
“Dizendo isso, o monge segura com uma das mãos a cabeça da vítima,
enfia-lhe a língua na boca e a comprime de tal forma que é impossível
não sentir seu pau roçar a xoxota da moça. Mas, como que aterrorizado
por esta infidelidade a seu culto predileto, o italiano imediatamente
volta-se por trás dela e aplica enfim o beijo mais ardente… mais
abrasador nestas nádegas iluminadas pelos vigorosos tapas que as
mortificam. Depois entreabre-as, dardeia com a língua o furo mignon,
saboreia a volúpia em todos os aspectos, farta-se de lubricidade
tenebrosa, sempre masturbado por seu gitão que não o larga desde o
começo deste ato escandaloso, chegando ao ponto de fazer o monge gozar;
este, apercebendo-se que sem faltar com seus confrades ser-lhe-á
impossível ir mais longe, pede a Justine que se levante e o siga… o
resto da penitência se fará no interior…”
“Ciranda dos Libertinos”, Marquês de Sade, Max Limonad, 1988, SP, organização e tradução de L. A. Contador Borges.
TREPADA SINESTÉSICA
12) Raduan Nassar – “Um Copo de Cólera”(1978)
“(…) mas assim que ela deixou o quarto e foi por instantes até o
banheiro, tirei rápido a calça e a camisa, e me atirando na cama fiquei
aguardando por ela já teso e pronto, fruindo em silêncio o algodão do
lençol que me cobria, e logo eu fechava os olhos pensando nas artimanhas
que empregaria (das tantas que eu sabia), e com isso fui repassando
sozinho na cabeça as coisas todas que fazíamos, de como ela vibrava com
os trejeitos iniciais da minha boca e o brilho que eu forjava nos meus
olhos, onde eu fazia aflorar o que existia em mim de mais torpe e
sórdido, sabendo que ela arrebatada pelo meu avesso haveria sempre de
gritar ‘é esse canalha que eu amo’, e repassei na cabeça esse esse outro
lance trivial do nosso jogo, preâmbulo contudo de insuspeitadas tramas
posteriores, e tão necessário como fazer avançar de começo um simples
peão sobre o tabuleiro, e em que eu, fechando minha mão na sua,
arrumava-lhe os dedos, imprimindo-lhes coragem, conduzindo-os sob meu
comando aos cabelos de meu peito, até que eles, a exemplo dos meus
próprios dedos debaixo do lençol, desenvolvessem por si só uma primorosa
atividade clandestina, ou então, em etapa adiantada, depois de
criteriosamente vasculhados nossos pelos, caroços e tantos cheiros,
quando os dois de joelhos medíamos o caminho mais prolongado de um único
beijo, nossas mãos em palma se colando, os braços se abrindo num
exercício quase cristão, nossos dentes mordendo ao outro a boca como se
mordessem a carne macia do coração (…)”
“Um Copo de Cólera”, Raduan Nassar, Companhia das Letras, 1992, SP.
TREPADA DOMINADORA
13) Dalton Trevisan – “Ah. é?” (1994)
“Blusa branca de renda e saia azul, estende-se ao lado dele. Olha-a
na penumbra e sorri. Afaga o longo cabelo dourado. Desabotoa a blusa.
Tira o sutiã – sabe o que é um peitinho de quinze anos?
Ela um passarinho morto. Mas o coração aos pulos. O que é que ele quer? Cada vez mais perto.
– Nunca teve namorado?
– Credo, João.
Beijo molhado de língua. De mim o que fazendo? Ele abre o fecho da
saia. Só de calcinha. Toda fria, pesada, mole. O peitinho, como bate. E
começa a chorar.
– Quero ir embora.
– Seja bobinha. Já passa.
Ao tirar a calcinha. ele rasga.”
“Ah, é?”, Dalton Trevisan, Record, 1994, RJ.
TREPADA SUBMISSA
14) Sérgio Sant’Anna – “O Vôo da Madrugada” (2003)
“Noutro momento do conto obscuro, branco é o homem e negra a mulher.
No quarto dela, diante de um espelho, ela se põe aos pés dele e chupa o
seu pau. Não dizem nada, apenas se olham no espelho – o homem com o
rosto e as mãos crispadas, estas apoiadas na cabeça da mulher – mas
ambos sabem que pensam mais ou menos a mesma coisa. Que uma mulher
chupando um homem de pé é um dos maiores gestos de submissão que existe,
ainda mais sendo ele branco e ela negra, mas a grande voluptuosidade e
desejo vêm justamente dessa submissão e dessa diferença.”
“O Vôo da Madrugada”, Sérgio Sant’Anna, Companhia das Letras, 2003, SP.
TREPADA NINFETÔMANA
15) Vladimir Nabokov – “Lolita” (1955)
“Era a mesma criança: os mesmos ombros frágeis, cor de mel, as mesmas
costas flexíveis, nuas e sedosas, os mesmos cabelos
castanho-avermelhados. O mesmo lenço de cabeça, pintalgado de preto,
atado em torno do peito, ocultava de meus olhos de macaco velho, mas não
da névoa de minha lembrança de rapaz, os seios juvenis que eu
acariciara num dia imortal. E, como se eu fosse a aia de uma princesinha
de conto de fadas (perdida, raptada, descoberta em andrajosos trajes
ciganos através dos quais sua nudez sorria para o rei e seus cães de
caça), reconheci, em seu flanco, a minúscula pinta marrom-escura. Com
respeitoso pasmo e deleite (o rei a chorar de alegria, as trombetas a
soar, a aia embriagada de felicidade), vi-lhe de novo o encantador e
retraído abdômen, onde minha boca, a descer-lhe pelo corpo, pousara um
momento; e aquelas ancas infantis, sobre as quais eu beijara a marca
crenulada deixada pelos shorts, naquele louco dia imortal,
atrás dos Roches Roses. Os vinte e cinco anos que eu vivera desde então
diminuíram até chegar a um ponto palpitante – e desapareceram.”
“Lolita”, Vladimir Nabokov, Civilização Brasileira, 1959, RJ, tradução de Brenno Silveira.
TREPADA BÉLICA
16) Rubem Fonseca – “A Coleira do Cão” (1965)
“O rosto limpo, toda ela crua, pura – você não conseguia dar um
beliscão nela, de tal maneira era esticada a sua pele. Pele? ela não
tinha pele, ela só tinha carne, uma carne firme, em todas as partes do
corpo, note bem: matava uma pulga espremendo-a com a unha do meu polegar
de encontro a barriga dela, se quisesse, tão infernal que me dava
vontade de lhe dar cabeçadas no corpo, já que não podia mordê-la. E eu dava
cabeçadas no ventre rijo dela, curvado como um touro que quisesse
voltar para o verde útero bovino de sua mãe, um útero que fosse Deus e o
Nada. E ela segurava minha cabeça dirigindo seus arremessos – como os
de um aríete que fosse trespassá-la rompendo as portas de sua carne – e
ria até que nos embolávamos suados e eu sentia o gosto de suor dela na
minha boca, nosso suor estalando entre nossas barrigas, o suor empapando
nossas pestanas, vaidoso por suar tanto, orgulhoso pelo longo tempo que
ficava dentro dela.”
“Contos Reunidos”, Rubem Fonseca, Companhia das Letras, 1995, SP.
TREPADA INTELECTUAL
17) Julio Cortázar – “O Jogo da Amarelinha” (1964)
“A Maga surgira certa tarde na rue de La Tombe-Issoire, trazia-me
sempre uma flor, um cartão-postal de Klee ou de Miró e, quando não tinha
dinheiro, escolhia uma folha de plátano no parque. Naquela época, eu
costumava procurar arames e caixotes vazios nas ruas, de madrugada, e
fabricava móveis, máquinas inúteis que a Maga me ajudava a pintar,
móbiles que giravam sobre as estufas. Não estávamos apaixonados,
fazíamos amor com um virtuosismo desligado e crítico, mas sempre
caíamos, depois, em terríveis silêncios. A espuma dos copos de cerveja
ia ficando como estopa, amornando e contraindo-se, enquanto nos
olhávamos e sentíamos que chegara o momento. A Maga acabava por se
levantar e dava voltas inúteis pelo quarto. Mais de uma vez, eu a vi
admirar seu corpo no espelho, segurar os seios com as mãos, como nas
estatuetas sírias, e passar os olhos pela sua pele numa lenta carícia.
Nunca consegui resistir ao desejo de pedir que se aproximasse,
sentindo-a curvar-se pouco a pouco sobre mim, desdobrar-se outra vez,
depois de ter estado por um momento tão só e tão apaixonada diante da
eternidade de seu corpo.”
“O Jogo da Amarelinha”, Julio Cortázar, Civilização Brasileira, 1999, tradução de Fernando de Castro Ferro.
TREPADA PSICODÉLICA
18) José Agrippino de Paula – “Panamérica” (1967)
“O corpo de Marilyn Monroe se ajustou ao meu e os cabelos louros se
introduziram nos meus cabelos e prenderam a minha cabeça. A união
continuou e eu preguei a minha boca à boca de Marilyn e ela introduziu a
sua língua entre os meus dentes e eu introduzi a minha língua na sua
boca úmida. Eu esmagava o meu rosto de encontro ao rosto de Marilyn, e
ela me abraçou retendo o meu corpo com os seus braços que me envolviam e
mantinham o meu peito colado aos seios de Marilyn. Depois eu senti o
meu sexo rígido e pontiagudo penetrando na vagina úmida de Marilyn, e a
sua barriga estreitamente unida à minha e a sua vagina retendo e
apertando o meu membro, e depois as suas duas pernas me envolveram e o
meu corpo se contraiu aderindo ao corpo de Marilyn e eu e ela gemíamos
de dor e prazer.”
TREPADA ANIMAL
19) Robert A. Wallace – “O Sexo Entre os Animais” (1980)
“O namoro de rinocerontes é algo de muito violento e perigoso. A
partir do instante em que a fêmea aceita o macho, porém, este se revela
extremamente amoroso, galgando o lombo dela, pouco a pouco, de
ejaculação em ejaculação, à medida que entra em sua carne cada vez mais
profundamente, até a conclusão apoteótica, em que se joga todo sobre
ela, com as quatro patas fora do chão.”
Tradução de Carlos Sussekind.
TREPADA DANÇANTE
20) Guillaume Apollinaire – “As Onze Mil Varas” (1907)
“A espanhola era uma soberba jovem convenientemente desconjuntada.
Olhos de azeviche brilhavam em seu rosto pálido de um oval perfeito.
Suas ancas eram arredondadas e as lantejoulas de sua roupa ofuscavam a
visão.
O toureiro, esbelto e robusto, também retorcia uma garupa cuja virilidade devia sem dúvida ter algum proveito.
Essa interessante dupla lançou inicialmente para o salão, com a mão
direita, enquanto a esquerda repousava sobre a anca arqueada, um par de
beijos que fizeram furor. Depois dançaram lascivamente no estilo de seu
país. Em seguida, a espanhola levantou a saia até o umbigo e prendeu-as
de forma a ficar desnuda até o rego umbilical. Suas pernas alongadas
estavam envoltas em meias de seda vermelha que subiam até três quartos
das coxas. Atavam-se ali aos espartilhos através de ligazinhas douradas,
as quais vinham se enlaçar às sedas que sustentavam uma mascarilha de
veludo negro colocadas sobre as nádegas de modo a disfarçar o buraco do
cu. A boceta estava oculta por um tosão negro azulado em caracóis.”
Tradução de Hamilton Trevisan.
TREPADA RAPIDINHA
21) D. H. Lawrence – “O Amante de Lady Chatterley” (1928)
“Ele desnudou também a frente de seu corpo, e ela sentiu a sua pele
nua sobre a dela à medida que ele a penetrava. Por um momento ele ficou
imóvel dentro dela, túrgido e palpitante. Quando, então, começou a se
mover, no súbito e inevitável orgasmo, novas estranhas emoções nela
despertaram, ondulando em seu interior. Ondulando, ondulando, ondulando,
como uma acariciante sucessão de leves chamas, leves como plumas,
deslizando para pontos de luz, delicadas, delicadas e fundindo-se com
toda a sua fluidez interior. Era como sinos, cada vez soando mais e mais
alto, até o paroxismo. Ela não percebeu os gritinhos arrebatados que
deu no final. Mas tudo acabou cedo demais, cedo demais, e ela não
conseguia mais provocar sua própria conclusão com sua própria atividade.
Aquilo era diferente, diferente. Ela nada podia fazer. Não conseguia
enrijecer e prendê-lo, para sua própria satisfação. Podia apenas
esperar, esperar e gemer por dentro ao senti-lo se retirando, se
retirando e encolhendo, chegando ao terrível momento em que deslizaria
para fora dela e iria embora.”
Tradução de Celina Portocarrero.
TREPADA AUTORITÁRIA
22) Zadie Smith – “Sobre a Beleza” (2005)
“Me come“, disse Victoria uma vez, e depois outra e outra.
Howard podia escutar o tilintar e o murmúrio do velório da mãe daquela
garota no andar inferior. Segurando a própria testa, posicionou-se por
trás dela. Ao menor toque, ela uivava e parecia tremer de paixão
pré-orgásmica, mas apesar disso estava, como Howard descobriu na segunda
tentativa, completamente seca. No momento seguinte ela tinha lambido a
mão e a trouxera para trás. Esfregou-se intensamente e depois esfregou
Howard. Obediente, sua ereção voltou. “Mete dentro de mim”, disse Victoria. “Me come. Mete em mim até o talo”.
Tradução de Daniel Galera.
TREPADA ESPADACHIM
23) Pauline Réage – “História de O” (1954)
“Monique não esperou outras ordens, ajoelhou-se e curvou-se, com o
peito de encontro ao revestimento, segurando os dois lados do pufe com
as duas mãos. Ela permaneceu imóvel, enquanto o rapaz mandava Jeanne
suspender a saia vermelha. Jeanne teve então que desabotoá-lo, ele
ordenou isso de forma brutal, e tomar nas mãos aquela espada de carne,
que tão cruelmente havia, pelo menos uma vez, trespassado O. Ela inflou e
endureceu dentro da palma fechada, e O viu as pequeninas mãos de Jeanne
abrirem as coxas de Monique, no interior das quais o rapaz ia
penetrando, lentamente, em pequenos solavancos que a faziam gemer. O
outro homem, que olhava sem dizer nada, fez sinal a O para que se
aproximasse e, sem parar de olhar, debruçou-a sobre um dos braços da
poltrona – a saia suspensa lhe oferecia a totalidade das ancas – e
tomou-lhe todo o sexo com a mão.”
Tradução de Hortência Santos Lencastre.
TREPADA ROMANA
24) James Salter – “Um Esporte e Um Passatempo” (1967)
“O rádio está tocando. Eles se despem à luz suave do dia de inverno.
Dean está um pouco envergonhado de sua condição. Seu pau fica duro
sempre que ele olha para ela. Não consegue evitar. Seu maior desejo é
tirá-la do chão com ele, exultante, é alçá-la aos raios solares, à luz
das estrelas, onde ela possa ver o mundo. Começam a dançar um pouco,
nus, à meia-luz do cair da tarde, a música tênue e estrangeira, os seus
pés descalços sobre o tapete. Então fazem amor, ela montada sobre ele, à
moda predileta dos poetas romanos, como ele lhe informa. Ele está
deitado e, de baixo, fita-a no alto, as mãos apertadas em torno dos seus
tornozelos. O cheiro rico do corpo dela se derrama sobre ele. No fundo
daquilo tudo, o mudo triângulo em que ele está implantado e onde os
olhos dele se deixam ficar.”
Tradução de Sonia Moreira.
TREPADA CICLÍSTICA
25) Ana Cristina Cesar – “Cenas de Abril” (1979)
“Acordei com coceira no hímen. No bidê com espelhinho examinei o
local. Não surpreendi indícios de moléstia. Meus olhos leigos na certa
não percebem que um rouge a mais tem significado a mais. Passei pomada
branca até que a pele (rugosa e murcha) ficasse brilhante. Com essa
murcharam igualmente meus projetos de ir de bicicleta à ponta do
Arpoador. O selim poderia revivar a irritação. Em vez decidi me dedicar à
leitura.”
[ Seleção feita sob encomenda da revista Playboy, publicada aqui na íntegra ]