Como escrevem os grandes escritores
VIA
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Manoel de Barros:
 Tenho uma rotina quase militar. Acordo às 5 horas, tomo um copinho de 
guaraná em pó, caminho 25 minutos, tomo café com leite, subo para o meu 
escritório de ser inútil. Desço meio dia, tomo dois uísques, almoço e 
sesteio. O resto é pra ouvir música. E ver o dia morrer.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita? 
Ernest Hemingway:
 Quando estou trabalhando em um livro ou um conto, escrevo diariamente 
de manhã, a partir da hora em que surge a primeira luz. Não tem ninguém 
para perturbar, é fresco, ou mesmo frio. Leio o que fiz no dia anterior 
e, como sempre paro num trecho a partir do qual sei o que vai acontecer,
 prossigo desse ponto. Escrevo até chegar a um momento em que, ainda não
 tendo perdido o gás, posso antecipar o que vem em seguida; paro e tento
 sobreviver até o dia seguinte, para voltar à carga. Se começo às seis 
da manhã, digamos, posso ir até o meio dia, ou interromper o trabalho um
 pouco antes. A interrupção dá uma sensação de vazio, como quando se faz
 amor com quem se gosta. E ao mesmo tempo não é um vazio, mas um 
transbordamento. Não há nada que o atinja, nada acontece, nada tem 
sentido até o dia seguinte, quando você faz tudo de novo. Difícil é 
viver a espera até o dia seguinte.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
José Saramago:
 Tenho uma disciplina que consiste em escrever duas páginas diárias. 
Formalmente não escrevo mais do que isso. Pode parecer pouco, mas duas 
páginas diárias, ao fim de um ano, serão um livro com 800 páginas. Mesmo
 que pudesse continuar depois da segunda página, não continuo. Apenas 
continuo a oração, o período ou a frase, e o resto fica para amanhã.
Como é o seu processo de escrita? Uma 
vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se
 move da pesquisa para a escrita? 
Aldous Huxley:
 Eu nunca preparo uma trama. Não consigo fazer isso. Com frequência, 
pensava durante horas, segurava a cabeça entre as mãos, fechava os olhos
 e quase ficava doente por causa disso. Mas de nada adiantava. No final,
 eu desisti. Quando começo, só sei muito vagamente o que irá acontecer. 
Tenho apenas uma idéia geral e, então, a coisa se desenvolve, enquanto 
escrevo. Não raro – e isso já me aconteceu mais de uma vez – escrevo 
muito e, de repente, vejo que a coisa não vai, e tenho de jogar tudo 
fora. Gosto de já ter um capítulo terminado antes de começar a escrever o
 próximo.  Mas jamais estou inteiramente certo quanto ao que irá ocorrer no capítulo seguinte, enquanto não o escrevo.  As coisas me vêm em gotas e, quando isto acontece, tenho de trabalhar arduamente, para convertê-las em algo coerente.
Como você lida com as travas da 
escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às 
expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Gabriel García Márquez
 : Uma das coisas mais difíceis é o primeiro parágrafo. Posso gastar 
muitos meses em um primeiro parágrafo, mas, quando eu o consigo, o resto
 vem com muita facilidade. No primeiro parágrafo você resolve a maior 
parte dos problemas do livro. O tema está definido, o estilo, o tom. 
Pelo menos no meu caso, o primeiro parágrafo é uma espécie de amostra do
 que vai ser o resto do livro.
Quantas vezes você revisa seus textos 
antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para 
outras pessoas antes de publicá-los? 
Eduardo Galeano:
 Costumo escrever e depois deixar de molho. Nunca publico em seguida. 
Vejo e revejo, leio e releio, refaço, corrijo. Nunca me conformo com a 
primeira versão. E, além do mais, Helena, minha companheira, é uma 
crítica implacável, não perdoa escorregões.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Mia Couto:
 Eu escrevo em papelinhos, em papéis vários que tenho, [mas] perco quase
 todos. E o computador para mim é uma caixa onde eu atiro esses papéis, 
mas já não sou mais intimidado pelo computador. No princípio eu tinha 
uma relação de inferioridade com aquela máquina, agora já somos 
parceiros.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Henry Miller:
 Cada pessoa tem seu próprio caminho. Afinal de contas, a maior parte 
dos escritos é feita longe da máquina de escrever, longe da 
escrivaninha. Eu diria que acontece nos momentos calmos e silenciosos, 
quando estamos caminhando, fazendo a barba ou jogando uma partida ou 
seja o que for, ou até mesmo conversando com alguém por quem não temos 
um interesse vital. A gente está trabalhando, a mente está trabalhando o
 problema, que está em nosso íntimo. Assim, quando vamos para a máquina 
de escrever, é apenas uma questão de transferência.
O que você acha que mudou no seu 
processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se 
pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Cecília Meireles:
 Quero realizar coisas, não para para ser a autora, mas para dar-me, 
para contribuir em benefício de alguém ou de alguém ou de alguma coisa. 
Quando adoeci e tinha que repousar uma hora depois do almoço, ficava 
calculando quanto poema deixava de escrever, quanta coisa linda deixava
 de ler e conhecer naquelas horas perdidas. Mas aprendi também a 
renunciar a fazer quando é preciso.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
 

 
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