Realidade Visceral
"Rafael Barrios, café Quito, rua Bucareli, México, DF, maio de 1977. Que
 fizemos os real-visceralistas quando Ulises Lima e Arturo Belano se 
foram: escrita automática, cadáveres requintados, performances de uma só
 pessoa sem espectadores, contraintes,
 escrita a duas mãos, a três mãos, escrita masturbatória (com a direita 
escrevemos, com a esquerda nos masturbamos, ou ao contrário, no caso de 
quem é canhoto), madrigais, poemas-romances, sonetos cuja última palavra
 é sempre a mesma, mensagens de apenas três palavras escritas nas 
paredes (“Não aguento mais”, “Laura, te amo” etc.), diários desmedidos, mail-poetry, projective verse,
 poesia convencional, antipoesia, poesia concreta brasileira (escrita em
 português de dicionário), poemas policiais em prosa (com extrema 
economia se conta uma história policial, a última frase a esclarece ou 
não), parábolas, fábulas, teatro do absurdo, pop art,
 haicais, epigramas (na realidade, imitações ou variações de Catulo, 
quase todas de Moctezuma Rodríguez), poesia desesperada (baladas do 
Oeste), poesia georgiana, poesia da experiência, poesia beat, apócrifos 
de bpNichol, de John Giorno, de John Cage (A Year from Monday), de Ted Berrigan, do irmão de Antoninus, de Armand Schwerner (The Tablets),
 poesia letrista, caligramas, poesia elétrica (Bulteau, Messagier), 
poesia sanguinária (três mortos no mínimo), poesia pornográfica 
(variantes heterossexual, homossexual e bissexual, independentemente da 
inclinação particular do poeta), poemas apócrifos dos nadaístas 
colombianos, horazerianos do Peru, catalépticos do Uruguai, tzantzicos 
do Equador, canibais brasileiros, teatro no proletário... Até publicamos
 uma revista... Nos mexemos... Nos mexemos... Fizemos tudo que 
pudemos... Mas nada ficou bom.
"Os Detetives Selvagens (1998), Roberto Bolaño. Foto Mark Carter
 

 
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