segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Escrever



12 de Gabriel Garcia Marques

Control+V do homoliteratus.




1 – Uma coisa é uma história longa, e outra, uma história alongada.
2 – Um escritor pode escrever o que lhe agrada, sempre que acreditar naquilo.
3 – Não acredito no mito romântico de que o escritor deve passar fome, deve estar fodido, para produzir.
4 – É mais fácil capturar um coelho que um leitor.
5 – O fim de uma história deve ser escrito quando se está na metade.
6 – Você tem que começar com a vontade de que aquilo que vai escrever será a melhor coisa que já escreveu, pois sempre fica algo desta vontade.
7 – Quando o escritor se entedia escrevendo, o leitor se entediará lendo.
8 – Não devemos obrigar o leitor a ler uma frase de novo.
9 – O leitor lembra mais como termina um artigo do que como começa.
10 – Se escreve melhor havendo comido bem e com uma máquina elétrica.
11 – O dever revolucionário de um escritor é escrever bem.
12 – Durante muito tempo me aterrorizou a página em branco. A via e vomitava. Mas um dia li o melhor que se escreveu sobre essa síndrome. Seu autor foi Hemingway. Disse que se há de começar, e escrever, e escrever, até que de repente se sente que as coisas saem sozinhas, como se alguém as ditasse ao ouvido, ou como se quem as escreve fosse outro. Tem razão: é um momento sublime.



(ilustração de Carybé que estava em minha edição de Cem Anos de Solidão)

sábado, 29 de novembro de 2014

Escrever





quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Escrever


Condições Ideais de Temperatura e Pressão


Quadrinho do Zen Pencils ilustra mensagem de Bukowsky sobre o melhor lugar para criar.  Via Brainpickings





segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Escrever


Creativity is subtraction

Achei por aí. Mas pelo menos veio com endereço de remetente.



quinta-feira, 12 de junho de 2014

Escrever














Dois conselhos de Autran Dourado, via Todoprosa

(ah, o texto é do Sergio Rodrigues, autor de "O Drible")

I)Submeta-se à história:

"...Para deixar isso claro puxo um fio do artigo da semana passada: o trecho em que, citando de memória um ensaio da escritora canadense Margaret Atwood, falo da capacidade que tem a literatura de “pintar cenários grandiosos com base em quase nada, a chaminha trêmula de um palito de fósforo passando por grande incêndio”. Quem enfatiza esse mesmo ponto com uma boa tirada é um escritor mineiro que estaria fazendo 88 anos hoje, se não tivesse morrido em 2012: em seu livro “Uma poética de romance” (Rocco), Autran Dourado afirma ser o romancista aquele que “com um tiquinho de pólvora faz uma girândola, com um gritinho apronta um escarcéu”.

A ideia que Autran defende nesse trecho – e em todo o livro, uma reflexão sobre os bastidores da criação que é bastante incomum na literatura brasileira – é a de que, no caso dos romancistas, a linguagem deve estar sempre subordinada ao projeto mais amplo da narrativa. Um escritor não tem que saber por que a pólvora é explosiva, bastando que com um pouquinho dela crie a ilusão de um espetáculo pirotécnico. Se não precisa ser um cientista, tampouco lhe cabe o papel de sábio ou “filósofo”, como diz o autor de “O risco do bordado”. Seu único compromisso é com a obra: “Se o romancista emprega as técnicas das ciências na feitura dos seus personagens e do livro, ele o faz preocupado com a arquitetura, com a estrutura e a mecânica do romance”.

Óbvio? Sim, mas o que sobressai nos ensaios metalinguísticos de Dourado é um traço bem pouco enfatizado nas discussões literárias: a humildade. Não a humildade como ausência de vaidade – algo que seria, vamos admitir logo, praticamente inconcebível no mais franciscano dos escritores –, mas a humildade como reconhecimento de que a narrativa é mais importante, e sabe mais sobre si mesma, do que o próprio autor. “É preciso ter grande modéstia e humildade, a humildade dos criadores”, escreve ele, “para reconhecer a excelência das coisas, a importância mesmo das banalidades, porque o substantivo é banal, ao contrário do adjetivo. A palavra pode ser rara, mas a coisa que ela designa é sempre banal – coisa.”

Desse elogio da banalidade e do respeito quase religioso à autonomia da máquina ficcional, que podem parecer esquisitices talvez datadas, o autor destila uma crítica que me parece de grande utilidade a duas tentações opostas do estilismo: a da linguagem clássica, limpa, “perfeita” (que para Autran teria Machado de Assis como patrono), e a da linguagem bombástica, barroca, rebuscada (elevada à estratosfera por Guimarães Rosa). Ambas, por assim dizer, traem a obra porque apontam para si mesmas. Rosa é tratado com especial severidade, embora o ensaísta se declare seu admirador: “Há em Guimarães Rosa um lado Rui Barbosa, um lado Euclides da Cunha, um lado Coelho Neto…”.""

Texto integral AQUI.

II)Experimente mudar

"
Um dos conselhos literários mais importantes que já recebi – quase tão importante quanto aquele outro, o de desconfiar de todos os conselhos literários – me apareceu quando eu tinha vinte e tantos anos, lendo um artigo de Autran Dourado (citado aqui outro dia) sobre seu método de trabalho. Se a memória não me engana mais do que o habitual, o escritor mineiro revelava, embora não com essas palavras, uma forma de dar vida nova a textos deficientes, insatisfatórios, capengas ou falsos: trocar seu tempo verbal ou a pessoa da narração – ou as duas coisas ao mesmo tempo.

Ainda não era comum escrever em computador naquela época. O truque, se assim podemos chamá-lo, envolvia um bocado de trabalho pesado: rabiscar tudo com caneta era provavelmente o primeiro passo, mas no fim das contas, para ter um resultado apresentável, restava alimentar a máquina de escrever com papel novo e datilografar tudo outra vez. Da primeira à última palavra. Trocando, por exemplo, “fui” e “tinha” por “vou” e “tenho”. Ou por “vai” e “tem”. E “minha” por “sua”. Etc.

É claro que, tendo feito tudo isso, e ainda que a princípio satisfeito com as mudanças, nada impedia o angustiado autor-datilógrafo de se arrepender no dia seguinte. Por alguma razão ainda pouco explicada, a virada da folhinha tem frequentemente essa capacidade de transformar felicidade autoral na frustração mais amarga. E lá iam tempos verbais e pessoas narrativas de volta ao estado de origem, à custa de mais batuque no teclado.

Divertido? Não, deve haver palavra que qualifique melhor esse tipo de exercício. Naquele tempo, a coisa tinha sem dúvida algo de insano, mas a função localizar/substituir do computador, eliminando como por milagre a maior parte do trabalho braçal, tornou forçado falar em insanidade. Hoje é bem mais fácil alterar o sujeito e os tempos verbais de uma narrativa, mesmo que ela seja um romance de 500 páginas. Claro que ajustes ainda precisam ser feitos manualmente, em flexões e tal, mas é indiscutível que o texto se tornou mais plástico, o caminho entre a cabeça e a página encurtou, a vida ficou mais confortável.

(...)

Sim, é possível que o problema de uma narrativa seja outro e que ela continue a mesma porcaria quando mudamos a narração da primeira para a terceira pessoa. Mesmo em tal caso, porém, o exercício não terá sido em vão. A razão disso é diabolicamente simples: ao brincar com o ponto de vista e o tempo verbal – a voz narrativa, em suma – estamos nada menos do que penetrando o coração dessa brincadeira, tomando posse daquilo que torna a literatura, literatura. Cervantes inventou o romance moderno quando inventou a voz maluca, autoconsciente, de D. Quixote. O resto veio depois.
 "


Texto integral AQUI.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Escrever


7 de Hemingway


Via homoliteratus

1) Escrever bem é escrever sinceramente. Se um homem está escrevendo uma estória, será verdadeiro e sincero em proporção à soma de conhecimentos da vida que ele possui (…) Se ele não souber como muitas pessoas agem e pensam, como se processam os seus pensamentos e ações, a sua boa estrela poderá poupá-lo por algum tempo ou talvez possa escrever estórias da carochinha. Mas se continuar escrevendo sobre aquilo que não conhece, acabará por descobrir que não passa de uma fraude, de uma mistificação.

2) (…) Se escrever a lápis, isso dá-lhe a possibilidade de ver o seu trabalho três vezes, para certificar-se de que está realmente comunicando ao leitor aquilo que você lhe quer dar. Primeiro, quando lê o que escreveu; depois, quando o original é datilografado, tem nova oportunidade para aperfeiçoá-lo e, finalmente, na prova tipográfica.

3) O melhor é parar sempre quando o negócio está saindo bem e você sabe o que irá acontecer a seguir. Se você fizer isso todos os dias, quando está escrevendo um romance, nunca ficará engasgado num beco sem saída. (…) Desta maneira, o seu subconsciente estará trabalhando ativamente em torno do assunto o tempo todo.

4) É inútil escrever qualquer coisa que já tenha sido escrita antes, a menos que você possa superá-la. O que um escritor tem a fazer, no nosso tempo, é escrever o que não foi escrito antes ou bater os escritores mortos naquilo que fizeram. A única maneira que ele tem de saber se vai andando bem é competir com os mortos. A maioria dos escritores vivos não existe. (…) É como um corredor de milha fazendo o percurso contra-relógio em vez de tentar, simplesmente, bater quem estiver correndo na pista com ele. Se não correr contra o tempo, nunca saberá o que é capaz de atingir.

5) Observe o que acontece hoje. Se encontrarmos um peixe, observe exatamente o que cada um faz. Se sentir um súbito alvoroço, uma excitação peculiar, quando vir o peixe saltar fora da água, reconstrua todas as suas recordações até perceber exatamente qual foi a ação que provocou em você aquela emoção. (…)

6) Depois meta-se na cabeça de outra pessoa, para variar. Se eu berrar com você, procure imaginar tanto o que é que eu estou pensando como o que você sentiu quando eu berrei. (…)

7) Quando as pessoas falam você deve escutá-las completamente. Não fique pensando no que vai responder, no que deve dizer a seguir. A maioria das pessoas não ouve. Você deve estar capacitado para entrar numa sala e, quando sair, saber tudo o que ali viu e não só isso. Se essa sala lhe despertou algum sentimento, deverá saber exatamente o que foi que lhe deu esse sentimento. (…)


Imagem veio DAQUI.

sábado, 1 de março de 2014

Escrever

Faltaram dois dos Conselhos Literários Fundamentais. Para ler os anteriores, clique AQUI.

(Quem fez foi o Sérgio Rodrigues, do Todoprosa e autor de "O Drible". Imagem de Jean François Bory via Gramatologia)





IX

Pense nas palavras como amantes jogo-duro, seres neuróticos e esquivos que, para cada noite de prazer desbragado a apontar o infinito da posse plena, destinam ao insensato que com elas se envolve trezentas noites de gagueira e frio e fome não saciada, de cabelos puxados no meio do deserto no mais atroz desespero. Desconfie das palavras. Se declaram amor, exija mais, cobre provas, invente caprichos. Se lhe dão as costas, vá atrás. Sendo preciso chegar a tanto, implore, humilhe-se, mas guarde uma secreta porção de orgulho ferido: ela lhe será útil quando, após a próxima reconciliação, vocês brigarem de novo. Se desconfiar que as palavras lhe são infiéis, é porque são mesmo. Entregam-se a qualquer um que as saiba afagar, as vagabundas: o que são os clássicos da literatura universal senão os autos de seu ancestral pendor pela galinhagem? É só você que elas desprezam. Diante de suas cantadas subitamente ineptas, reviram os olhinhos, tingem os lábios de frio desdém. Revirar-lhes os olhinhos de prazer, morder seus lábios gulosos será então, para sempre, a ideia fixa do escritor, o padrão-ouro de sua vida. Coitado. Se tiver habilidade e sorte, conseguirá ter com as palavras uns poucos momentos memoráveis, o que é ótimo, contanto que não lhe suba à cabeça. É importante não esquecer que elas sempre vencem no fim, sempre esnobam, vão se entregar aos outros, ao mundo, a ninguém, deixando atrás de si, como uma cauda de cometa, o mudo turbilhão de indiferença que é a herança de todos os seus amantes.


X

Desista se for capaz. Pode ser que, após ponderar os conselhos anteriores e testá-los em exercícios práticos diários, angustiosos e inconclusivos, você encontre no fundo da última gaveta da alma uma migalha de sanidade e vislumbre, ainda que por meio segundo, a possibilidade de uma vida de plenitude imediata em que escrever não seja necessário, mais até do que isso, em que escrever seja tão inconveniente quanto a música de mau gosto que vaza pela parede do vizinho no meio da noite. Nesse caso, é altamente recomendável agarrar a miragem e trabalhar dia e noite para fazer da fresta um caminho, da centelha uma rota de fuga para um mundo de coisas que existem antes das palavras ou à margem delas: amores sem versos declaratórios de impossível originalidade, luares desprovidos de citações, equações sonoras de Thelonious Monk fruídas com a paz resignada dos que não buscam tradução para o intraduzível. Se for bem sucedido, você verá que esses e outros benefícios superam com folga aquilo que terá deixado para trás: a luta corporal contra o vento, as admirações minadas de ódio, as recompensas risíveis, a certeza do fracasso final e, acima de tudo, o doloroso e progressivo descolamento irônico entre o eu e qualquer ideia possível de eu. Se for capaz de desistir, não pense duas vezes: simplesmente desista. Mas pode ser que a esta altura seja tarde demais, caso em que já não caberão conselhos e só me restará lhe deixar aqui como despedida, semelhante meu, meu irmão, um voto de boa sorte.