segunda-feira, 31 de outubro de 2011





"melhor comentário = my penis is confused"

quarta-feira, 19 de outubro de 2011




Um lapso de razão



Eu sou é doido. É por isso que eu como cocô. Porque o cocô sai de mim e eu não quero que ele saia. Eu não tenha nada que é meu, só o cocô, então eu quero que ele fique dentro de mim e, quando o cocô sai, eu como ele de novo que é pra ele não ir embora e eu não ficar pobre. O pessoal não quer que eu coma cocô, mas eu vou comer o cocô sim porque o cocô é meu. Eu não pego o cocô de ninguém pra comer, mas o meu cocô é meu e eu como ele na hora que eu quiser e se alguém vem pra roubar o meu cocô eu fico muito nervoso. É por isso que eu sou doido. Quando eu fico nervoso, aí eu que eu como mais cocô mesmo. Aí eu como até o cocô do meu cachorro, que também é doido porque ele também come cocô. Pego meu cachorro, dou um pouco do meu cocô e ele me dá um pouco do cocô dele. É troca. Todo mundo que como cocô é doido ou então é criança. Criança também é doido, porque criança pequena come cocô que eu já vi. Quando eu tinha uns filhos eu via eles comendo cocô e eu não comia. Eu não comia nada antes, só trabalhava. Mas aí, quando eu comecei a comer cocô, fiquei doido igual criança. É bom, porque doido não precisa trabalhar e não precisa ter filhos que come cocô porque não tem outra coisa pra comer, porque quando a gente trabalha não pode comer cocô e fica também sem nada pra comer. É melhor não fazer nada e comer cocô do que trabalhar e não comer nada. O pessoal que passa tenta me tirar daqui porque eu sou doido e como cocô. Eles falam que eu não posso comer cocô porque quem come cocô é doido e eu sou doido mesmo e vou continuar comendo cocô. Se eles me levarem pra outro lugar, eu vou comer cocô do mesmo jeito, porque o meu cocô não acaba nunca, porque cocô é sempre cocô e não precisa nem cozinhar. Se me botarem na cadeia, eu vou comer cocô, se me mandarem de novo pro hospício, eu vou comer cocô. No hospício, todo mundo come cocô porque lá todo mundo é doido. É bom também comer cocô porque não precisa limpar a rua. Eu como o cocô todo e o chão não fica sujo de cocô e o pessoal não rouba o meu cocô que eu já comi e nem bate em mim porque eu sujo a rua com o meu cocô. O pessoal, os porteiros, acham que o meu cocô é sujo, mas é mentira. O meu cocô é muito mais gostoso do que o cocô dos doido lá do hospício, porque eu só como cocô. Um cocô vira outro cocô, que vira outro cocô, que vira outro cocô e por aí vai. Então, o meu cocô vai ficando cada vez mais limpo porque não é cocô de comida estragada. É cocô puro. Eu sei que isso é coisa de doido, isso de comer cocô. Mas eu não sou ladrão, não sou maconheiro, não sou mendigo. Eu sou é doido. Eu pareço mendigo, mas é só pro pessoal deixar eu comer cocô em paz. Se eu falar pro pessoal que eu sou doido, aí eles vão querer fazer tratamento em mim pra eu parar de comer cocô. Eles dão uma remédio que faz a gente não ter mais vontade de comer cocô. Aí, a gente fica parado, sem vontade de fazer nada e continua doido, só que sem vontade de comer cocô. Só de pensar nisso eu já fico nervoso, com vontade de comer cocô. Só que agora eu não to com vontade de fazer cocô e o meu cachorro sumiu, senão eu comia o cocô dele. Só que o meu cocô é muito melhor do que o cocô do meu cachorro. É porque eu sou doido. Meu cachorro, não. Meu cachorro é mais é criança que come cocô sem ser doido. Ou é doido também, criança? Cachorro. Eu não sei. Eu não sei se eu comia cocô antes, quando eu era criança. Eu não lembro. Mas depois, quando eu não era mais criança, eu não comia cocô. Eu comia marmita que a minha mulher fazia. Era uma marmita pequena. Aí eu comecei a comer cocô e ficar doido e sem trabalhar e a minha mulher me mandou embora pra mim não comer cocô na frente de uns filhos que eu tinha e que comiam cocô igual doido. Sem ser doido, só criança que é normal comer cocô de vez em quando. Eu não. Eu sou é doido.

(André Sant´anna. Publicado em "Sexo e Amizade", Cia das Letras. Fonte do texto AQUI)

domingo, 9 de outubro de 2011

29ª JORNADA DE PSICANÁLISE: O CORPO E SUAS DIFERENTES ABORDAGENS

http://ocorpoesuasdiferentesabordagens.blogspot.com/



Realizaremos neste ano de 2011, a 29ª Jornada de Psicanálise do Instituto Tempos Modernos, cujo título será "O corpo e suas diferentes abordagens".

A jornada será realizada nos dias 20 e 21 de outubro (quinta e sexta-feira, respectivamente) na Faculdade de Psicologia da Universidade São Judas Tadeu, situada na Rua Taquari, 546 - Moóca - São Paulo/SP.


O evento terá ENTRADA FRANCA e VAGAS LIMITADAS.

Serão entregues certificados aos que tiverem interesse.

20/10/2011 – Quinta-feira (10:00h às 17:00h)

10:00h - Abertura
Susana Amalia Palacios, Presidente do ITM
Carla Witler, Coord. da Faculdade de Psicologia São Judas Tadeu

10:30h às 12:00h – O corpo na velhice
- Marília Viana Berzins, Assistente Social, Dra. em Saúde Pública, Especialista e Mestre em Gerontologia, São Paulo
- Dr.Paulo Paiva Baisi, Especialista em Geriatria, Pós-Graduando em Psiquiatria, São Paulo
- Neusa Lais Coelho, Psicanalista, Niterói – RJ
Coordenação: Ana Carlênia Oliveira, Psicanalista, São Paulo

12:15h às 13:15h – Almoço

13:30h às 15:20h - O corpo e suas diferentes abordagens
- Regina Teixeira, Psiquiatra e Psicanalista, São Paulo
- Diogo Bogea, Filósofo, Niterói – RJ
- Patricia Delboux, Psicanalista, São Paulo
- Dulci N. Fonseca Vagenas, Dra. em Genética Humana, São Paulo
Coordenação: Ana Carlênia Oliveira, Psicanalista, São Paulo

15:35h às 17:05h - O corpo na infância e na adolescência
- Andreneide Dantas, Psicanalista São Paulo
- Eliane Amaral,Presidente do Instituto Mensageiros, São Paulo
- Maria Helena Seibt, Psicanalista, São Paulo
Coordenação: Maria Emília Toigo, Psicanalista, São Paulo



21/10/2011 – Sexta-feira (13:00h às 21:00h)

13:15h às 14:45h - O corpo na arte, na medicina e na psicanálise
- Juan Manuel Urbinati, Psicólogo, São Paulo
- Rosane Aubin, Psicanalista, São Paulo
- Lucio Artioli, Psicanalista, São Paulo
Coordenação: Ana Carlênia Oliveira, Psicanalista, São Paulo

15:00h às 16:30h - O corpo e suas marcas
- Déborah Maluf, Psicanalista, São Paulo
- Elza Calôba, Psicanalista, Rio de Janeiro
- Suzana Nolasco, Psicanalista, Rio de Janeiro
Coordenação: Maria Emília Toigo, Psicanalista, São Paulo

16:45h às 17:15h - Intervalo

17:30h às 19:00h - O corpo e seus padecimentos
- Sérgio Braghini, Psicanalista, São Paulo
- Ana Zabala, Psicanalista, Buenos Aires
- Ricardo Eduardo Delfino, Psicanalista, Rio de Janeiro
Coordenação: Ana Carlênia Oliveira, Psicanalista, São Paulo

19:15h às 20:45h - O corpo na espiral de nossa época.
- Mariana Leal de Barros, Dra. em Antropologia e Psicologia, São Paulo
- Fabiola Ferrari, Psiquiatra, Rio de Janeiro
- Susana Amalia Palacios, Psicanalista, Rio de Janeiro e São Paulo
Coordenação: Andreneide Dantas, Psicanalista, São Paulo

ORGANIZAÇÃO: DENIZE MULLER, Joana Darc Salgado Rodrigues, Andreneide Dantas e Suzana Palácios

domingo, 2 de outubro de 2011

nº 12: Gif





Um relógio tremelicava seus ponteiros. Um homem na bilheteria deixara cair moedas. Os centavos desapareciam no voo antes do chão, e então tudo, moedas e homem regressavam a posição anterior. Uma senhora ajeitava continuamente os óculos perante o mapa ao redor da estação. Outro teclava um número infinito no aparelho celular. Um casal, o homem de boné levava a bolsa das fraldas e mamadeiras, a mulher de cabelo preso, carregava com cuidado um bebê em um cobertor de pelinho. Aproximei-me para ver se os bebês daquele tempo eram parecidos com os nossos. Achamos engraçado, eram cabeludos e despenteados. Um dos novos divertia-se numa parede, tentava pichar o próprio nome sobre o concreto, mas o próprio tempo se encarregava de apagar suas marcas, deixando-a sempre lisa, como estava entre aqueles centésimos de segundos.

O professor nos chamou. Mal prestávamos atenção nele, ainda fascinados com aquele sítio paleocivilizado, nem precisávamos, poderíamos baixar aquela aula numa outra hora, isto contaria deméritos no final do ciclo, mas tudo bem, quem quer ouvir explicações? Era nossa primeira excursão. Inicialmente, nos relembrou porque nosso passeio seria impraticável em um momento cravado, em um segundo congelado: seríamos incapazes de se movimentar ou respirar, a atmosfera e suas moléculas não abririam espaço para nossa presença. A escuridão seria total, pois nossos olhos precisam dos fótons refletidos continuamente sobre as retinas. Precisávamos perambular entre aqueles instantes, o que fazia as pessoas se mexerem naquela dança boba, entre um passo e outro, dizendo e desdizendo, inspirando e expirando. E continuou com outros detalhes chatos que só iríamos utilizar se nos tornássemos engenheiros de crononavegação ou compiladores historiográficos. E quem quer penar com salário mixaria...?

-Valendo pontos: alguém arriscaria um palpite para determinar QUANDO estamos? – perguntou o professor à classe. A bagunça parou, ficamos quietos, olhando para os pés. Apenas o mais bajulador dentre nós, o queridinho do Professor, sugeriu que (pelo material e pela ausência de sol) estávamos em um abrigo antinuclear das Guerras Aquíferas ou numa estação de transporte coletivo. O professor sorriu e completou sua resposta, realmente uma estação de transporte de trens METRO-politanos, do latim metrópole, que por sua vez, veio da junção de duas palavras gregas métra, que significa matriz, útero, ventre e pólis, cidade.

-De certa forma, é por isto que estamos aqui.

Descemos as escadas. Este pedia que não mexêssemos nas pessoas, embaladas naquele tempo dobrado. Era tentador e, esquecendo ou desencanando da constante filmagem de nosso comportamento, levantamos as saias de uma mulher, como quem levanta e baixa uma cortina. O gordo, sempre pensando em comida, chegou perto de outro mastigando algo. Insistiu mas não conseguiu arrancar o pão de queijo da mão daquele. Difícil não se divertir com aqueles estranhos e seus movimentos ridículos e repetitivos. Talvez, no fluxo normal dos segundos, aquilo fosse suave e discreto, mas para nós eram pulsos frenéticos de alguém eletrocutado. Não sei se eram feios ou bonitos. Eram esquisitos.


Antes da plataforma e da composição, havia uma escadaria, separada por uma mureta. De um lado, degraus metálicos; d´outro, paleoconcreto. Demoramos a entender que uma delas se movia. Descemos pela maior até um homem. Ele também aprisionado entre instantes, mas aparentava serenidade. Seus gestos não eram abruptos, talvez fosse esta a explicação. O rapaz estava em pé, apenas sua cabeça se movia acompanhava a moça. Depois da mureta, indo em sentido contrário, estava uma mulher. O olhar dos dois movia-se ligeiramente e de novo e de novo e de novo. Deveria ser um tique enervante como o dos demais. Mas não era.

O professor nos explicou que neste dia eles se conheceram. Que nos momentos seguintes, ele correria atrás dela e conversariam. Que as pessoas ainda se reproduziam e não eram como nós, dependentes dos bancos paleogenômicos. Bancos que começaram a ser desenvolvidos naquele tempo de pouca radiação. Que ela tinha um problema físico que os obrigou a fazer inseminação artificial. Que naquele tempo, ao contrário do nosso, o clima era ameno e o ar respirável. Nossos cromossomos vieram dali, daqueles improváveis Adão e Eva. Éramos todos irmãos, filhos daquele sangue antigo, daqueles nossos velhos jovens pais, os pais de todos os clones e iríamos repovoar o planeta.