terça-feira, 16 de agosto de 2011

Churrascata, camisata e ata de alcachofra.




O tempo de vida útil da bunda é de dez anos. Disso ninguém duvida. O que se faz com ela nesse período é o que determina o quão brilhante e confortável vai ser o futuro. Se souber usar com sabedoria, pode até se aposentar em grande estilo e passar o resto dos dias numa casinha à beira mar, com um cachorro, um periquito que come na mão e quem sabe até um sagüi que vem todas as manhãs mordiscar as frutinhas que crescem no pomar. Portanto, conclui-se que mostrar (leia-se usar) a bunda é muito melhor do que escrever e, muito provavelmente, é melhor do que ser aeroportuária também. A única profissão que pode gerar alguma dúvida ante essa afirmação, máxima do mundo moderno e de todos os ulteriores, é a de engenharia civil. Pois lá estão os mais cheirosos. Fato. Nem mesmo um dinossauro poderia discordar disso. ´

Aproveitando o ensejo pré-histórico, sempre é tempo de dar vez aos que, mesmo distantes, vem nos visitar bienalmente e, verdade seja dita, mostram a competência que os fazem estar entre nós. Não, na verdade não. Esquece tudo isso agora. E tenta se lembrar daquele dia de um certo novembro, ou outubro, há três anos atrás, e de repente surgirá como mágica uma foto de dez pessoas sentadas em uma mesa, de um café qualquer em São Paulo. Não é nada disso que interessa. Pois as dez já foram três, quatro, seis, oito, nove, dez de novo e flutua como uma sacola de mercado em vendaval. Mas isso também não é verdade. Não é como quando se quinze anos e tudo o que importa é se comer em escadarias, em bancos de metrô, calçadas de escola ou até mesmo dentro das mochilas que raras vezes viram a cara dos professores. O que também pode ser mentira se comparado a uma orgia de elefantes albinos e anões do norte da índia, os mais raros e mais sagrados entre todos os animais que fazem orgia (logo, são os mais sagrados de TODOS os animais…). Aceite o açoite. Não é impossível. Aliás, dormir aos quinze anos e acordar com trinta, pode ser muito mais salutar do que passar por todos os anos que até Jesus fez questão de esconder. E isso, não duvide, é Verdade Verdadeira. Mesmo encabulado, mesmo sem ritmo e etc, aceite, é esse o maior de todos os poderes de uma liga de heróis que seriam mais bem compreendidos como querubins que se digladiam com foices e em círculo.

O fato mais estranho nem sempre é uma nova cara. Talvez o mais estranho do que cara de cíntia-aeroportuária, (sabe?), seja a presença dos malditos (recém-batizados assim, pela nova era) e a forma como se relacionam com suas mandiocas (ou seria a mandioca de um só?), suas batatas e líquidos gasosos com um final que coça até os pelos do cú, mas nunca o céu da boca ou o nariz. Também é estranho ver que a preocupação dos malditos não se resume às referências culinárias. Eles gritam por silêncio. Pelo silêncio da voz do Dinho Ouro Preto. Enquanto param para ouvir uns aos outros em um frenesi digno das brigas na casa da vizinha que apanha do marido bate nos filhos chuta a cadela xinga os crentes manda a vendedora da avon tomar no cu sua puta solta a cadela pra morder o cara que corta a luz o cara que corta a água e também o filho do vizinho que pula o muro pra pegar a bola. Enquanto se escutam, são analisados e analisam por aquilo escrevem. Nem desconfiam que são escritos, viram páginas e mais páginas, por aquilo que juram escrever … Mesmo que seja em mensagem de celular para os entes não presentes, mesmo que seja pintando com merda as paredes do banheiro de uma churrascaria. Sádicos. Os malditos são sádicos. (Ou seriam fálicos?).

E o que ninguém sabe, mas aponta com veemência é o fato de que todos são viciados por suas próprias teorias sobre bunda, açoites, rampas de bagagem, fantasmas escritores, cinema, super-heróis, sertralina, rivotril e sopa. E também por chocolate. E por segundas intenções que só serão conhecidas pelos que cruzarem a porta, as portas e, em futuro próximo, os portões. Nem adianta mostrar o símbolo do Batman tatuado nas costas (até mesmo porquê a tatuagem se perde no ato de levantar a camisa…), nem abrir os botões da frente pra mostrar uma alcachofra, rosa-avermelhada, tatuada bem no meio dos peitos: todos cruzarão os portões. Todos vão para a mesma eternidade. Mas nenhum deles quer ser eterno.


(T.Araújo)

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