domingo, 26 de junho de 2011

Enxoval para o Bebê Diabo




Como bem se sabe, o Diabo fugiu para o Nordeste há muitos anos e desde então mora lá. Casou com Auxiliadora e teve cinco crianças e duas criaturas: Berenice, Beladona, Benjamin, Belzébio, Belatrix, Belizário, Belano. Foi aniversário dele estes dias (O Diabo só poderia ser de Touro ou de Capricórnio), apesar da idade, fez uma festinha, mais pelas crianças mais novas. Teve bolinho, uns salgadinhos, umas garrafas de Cerpa, umas doses de Pitú. O sogro trouxe uísque. Chovia e só vieram uns amigos mais chegados. Os filhos ficaram jogando Playstation com uns joguinhos piratas. O Diabo falava muito quando criança, até inglês ou latim se atrevia. Mas, conforme os anos passaram, ele foi ficando mais e mais calado.

Dia seguinte, despediu-se de Auxiliadora. Explicou o motivo. Ela entendeu e começou a chorar. Ele disse onde estava o dinheiro e deu a senha da conta do banco. Auxiliadora foi fazer um último café e ele foi despedir-se dos filhos. Dormiam todos no mesmo quarto. Só Berenice acordou e aproveitou isto para abraçá-lo bem apertado. Ela nem reclamou do enxofre.

Era madrugada ainda e ele caminhou em direção a estrada. O céu abria-se em laranja, o mundo aqui embaixo coberto de sombra. Um vira-lata foi latir para ele, tombou morto em seguida e sem explicação.

A bandidada corria solto naqueles sertões e os ônibus agora só vinham em comboio para se protegerem. Havia empresa que contratava até uns jagunços para acompanhar durante aquela parte do percurso. O Diabo estava sozinho no acostamento, fez sinal para os ônibus que pararam um atrás do outro. Ele se perdeu um pouco, procurando aquele que ia para São Paulo. Pagou direto ao motorista, o Diabo nem precisava ser telepata para ler seus pensamentos: piadas de cornos. Sentou-se, colocou os foninhos e ficou ouvindo Asa de Águia.

O Diabo voltava para São Paulo, ia visitar a mãe pela última vez antes do fim do mundo.


Segundo o Notícias Populares, em 1977 nascia em São Paulo, o Bebê Diabo. Detalhes AQUI.

Nenhum comentário:

Postar um comentário