quinta-feira, 30 de junho de 2011

street view





Azul de pincel

Árvores de plástico
na praia artificial
e um sol constrangido

paraiso liquido
sopra pro oeste aquela
alegria de mentira



(L.Fuentes)



(Imagem DAQUI, de Jon Rafman, um artista que coletou fotos do Google Street View. Explicações AQUI)

domingo, 26 de junho de 2011



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Abra suas asas

Solte suas feras
Caia na gandaia
Entre nessa festa
E leve com você
Seu sonho mais louco
Eu quero ver seu corpo
Lindo, leve e solto
A gente às vezes
Sente, sofre, dança
Sem querer dançar
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu
Como você
Abra suas asas
Solte suas feras
Caia na gandaia
Entre nessa festa
E leve com você
Seu sonho mais louco
Eu quero ver seu corpo
Lindo, leve e solto
A gente às vezes
Sente, sofre, dança
Sem querer dançar
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu
Como você
Dance bem
Dance mal
Dance sem parar
Dance bem
Dance até
Sem saber dançar
Dance bem
Dance mal
Dance sem parar
Dance bem
Dance até
Sem saber dançar
Abra suas asas
Solte suas feras
Caia na gandaia
Entre nessa festa
E leve com você
Seu sonho mais louco
Eu quero ver seu corpo
Lindo, leve e solto
A gente às vezes
Sente, sofre, dança
Sem querer dançar
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu
Como você
A gente às vezes
Sente, sofre, dança
Sem querer dançar
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu
Como você
Dance bem
Dance mal
Dance sem parar
Dance bem
Dance até
Sem saber dançar
Dance bem
Dance mal
Dance sem parar
Dance bem
Dance até
Sem saber dançar

Enxoval para o Bebê Diabo




Como bem se sabe, o Diabo fugiu para o Nordeste há muitos anos e desde então mora lá. Casou com Auxiliadora e teve cinco crianças e duas criaturas: Berenice, Beladona, Benjamin, Belzébio, Belatrix, Belizário, Belano. Foi aniversário dele estes dias (O Diabo só poderia ser de Touro ou de Capricórnio), apesar da idade, fez uma festinha, mais pelas crianças mais novas. Teve bolinho, uns salgadinhos, umas garrafas de Cerpa, umas doses de Pitú. O sogro trouxe uísque. Chovia e só vieram uns amigos mais chegados. Os filhos ficaram jogando Playstation com uns joguinhos piratas. O Diabo falava muito quando criança, até inglês ou latim se atrevia. Mas, conforme os anos passaram, ele foi ficando mais e mais calado.

Dia seguinte, despediu-se de Auxiliadora. Explicou o motivo. Ela entendeu e começou a chorar. Ele disse onde estava o dinheiro e deu a senha da conta do banco. Auxiliadora foi fazer um último café e ele foi despedir-se dos filhos. Dormiam todos no mesmo quarto. Só Berenice acordou e aproveitou isto para abraçá-lo bem apertado. Ela nem reclamou do enxofre.

Era madrugada ainda e ele caminhou em direção a estrada. O céu abria-se em laranja, o mundo aqui embaixo coberto de sombra. Um vira-lata foi latir para ele, tombou morto em seguida e sem explicação.

A bandidada corria solto naqueles sertões e os ônibus agora só vinham em comboio para se protegerem. Havia empresa que contratava até uns jagunços para acompanhar durante aquela parte do percurso. O Diabo estava sozinho no acostamento, fez sinal para os ônibus que pararam um atrás do outro. Ele se perdeu um pouco, procurando aquele que ia para São Paulo. Pagou direto ao motorista, o Diabo nem precisava ser telepata para ler seus pensamentos: piadas de cornos. Sentou-se, colocou os foninhos e ficou ouvindo Asa de Águia.

O Diabo voltava para São Paulo, ia visitar a mãe pela última vez antes do fim do mundo.


Segundo o Notícias Populares, em 1977 nascia em São Paulo, o Bebê Diabo. Detalhes AQUI.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Enxoval para o Bebê Diabo





Somos animais que lambem uns as genitálias dos outros e eu querendo dar uma lição de moral na criatura, só porque ele tinha torturado e humilhado o amiguinho. Fui teorizando sobre a igualdade, sobre a tolerância, sobre o advogado do pai do moleque ser um dos melhores do país e eu nem tenho dinheiro para pagar a escola, mas aquele verme ficava olhando para mim sem querer entender. O moleque é viado, viado pai! Ele é judeu e viado! Metido, se acha o macho, se acha o escolhido. Eu tentava explicar que não era assim, que não podíamos deixar o sangue ferver só porque o outro não se encaixava na nossa fórmula, porque não se ajoelha diante de nossa superioridade. Os tempos são outros, outros. E o diabo do menino nada, emburrado, circunscrito em sua certeza de que tem inseto que deve ser pisado antes que se alastre. E eu olhava para o teto, aquilo era um anátema, as palavras rareando diante da possibilidade de me foder mais e mais por conta daquela mola de insultos, daquele possuído. Olhe, preste atenção, tem coisa que não pode, você está entendendo, não pode! Ele riu com o canto do lábio, quem é você pra falar. Poderia dizer, seu pai, mas somos animais que lambem as genitálias uns dos outros... Arranquei sua cabeça, corrigindo o erro da concepção, sem alguém para ser processado não havia como me complicar. Agora entendo porque Ele morreu, filho é de matar, é de foder. Nunca mais, essas crianças são os demônios.



Segundo o Notícias Populares, em 1977 nascia em São Paulo, o Bebê Diabo. Detalhes AQUI.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

nicho


"Refugiou-se num beco quieto para se fazer apresentável. As roupas que havia conseguido agarrar antes de fugir eram uma confusão só, mas serviram para evitar que ele atraísse uma atenção indesejável. Enquanto abotoava as calças - o corpo parecia tenso como ressentido por estar oculto - tentou controlar o holocausto que trovejava entre suas orelhas. Mas as chamas não cediam. Cada fibra sua parecia viva ao fluxo do mundo ao seu redor. As árvores ao longo da estrada, a parede às suas costas, as próprias pedras do calçamento sob seus pés descalços lhe atiçavam fagulhas e queimavam agora com fogo próprio. Ele sorriu ao ver a conflagração se espalhar. O mundo, em cada detalhe ansioso, sorriu de volta.

Excitado além do controle, virou-se para a parede contra a qual se apoiara. O sol havia caído por completo sobre ela, e estava quente: os tijolos cheiravam maravilhosamente. Depositou beijos em suas faces terrosas, as mãos explorando cada reentrância. Murmurando besteiras adocicadas, baixou o zíper, encontrou um nicho confortável e o preencheu. Sua mente corria com imagens líquidas: anatomias misturadas, femininas e masculinas em um único indistinguível congresso. Acima dele, mesmo as nuvens haviam pegado fogo; enfeitiçado por suas cabeças em chamas, ele sentiu o momento elevar-se em sua excitação. A respiração era rápida agora. Mas o êxtase? Certamente continuaria para sempre."


A Idade do Desejo (conto), Clive Barker,




(Imagem Parede do Amor, Verona.)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Enxoval para o Bebê Diabo





Teve os chifres e o rabo retirados cirurgicamente no nascimento. Com os signos da maldade assim extirpados, estava livre para "demonizar" o mundo completamente camuflado. Ainda garoto, adentrava cultos evangélicos para provocar orgasmos em fiéis a cada grito de “aleluia”, colaborando assim para a incluir a congregação cristã da nova era no Guinnes Book pelos 3478 gritos de “Aleluia” durante as 3 hs de culto (nenhuma citação foi feita sobre o esperma que corria pelas pernas dos fiéis de sexo masculino). Já adulto, divertia-se em brincar com os fluidos corporais - porra, mijo, sangue – em lugares sagrados – igrejas, santuários, salões. Estudou para ser pastor e fundou a igreja “SEMENte da Salvação”, cujos templos eram verdadeiros parques aquáticos de uma água viscosa e esbranquiçada que faz bem para a pele. Atraiu milhares de seguidores, que doavam todas suas economias, velhos, deficientes, anões, albinos, ciganos, judeus, todos gritando “aleluia! aleluia!”, mergulhados num mar artificial da mais pura quente e aconchegante porra.



Segundo o Notícias Populares, em 1977 nascia em São Paulo, o Bebê Diabo. Detalhes AQUI.