segunda-feira, 30 de maio de 2011

Enxoval para o Bebê Diabo

Rosa choque




Nunca ela esteve tão radiante. Mesmo com a cara lavada, os cabelos meio oleosos e o cansaço do parto, Priscila era só orgulho e vaidade. Dera à luz um garoto forte e agora mostrava o troféu cor de rosa aos visitantes. Pai não havia, pelo menos ela nunca revelara quem era. Quando a barriga começou a ser visível, ela apenas dizia que era uma produção independente. Morava com duas amigas mas mudou-se para um apartamento maior, segundo ela para poder cuidar melhor do nenê. Nunca explicou aquela licença inesperada de dois meses, nem o fato de ter voltado dela com a cabeça raspada. O bebê era lindo mas eu juro, mas quando o toquei no escuro, o brilho que vi em seus olhinhos era vermelho.








Segundo o Notícias Populares, em 1977 nascia em São Paulo, o Bebê Diabo. Detalhes AQUI.

O corpo


Sébastien Tellier - Look por RECORDMAKERS





O corpo existe e pode ser pego. É suficientemente opaco para que se possa vê-lo. Se ficar olhando anos você pode ver crescer o cabelo. O corpo existe porque foi feito. Por isso tem um buraco no meio. O corpo existe, dado que exala cheiro. E em cada extremidade existe um dedo. O corpo se cortado espirra um líquido vermelho. O corpo tem alguém como recheio.



ARNALDO ANTUNES - O Corpo



(Vídeo: Via.)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

street view





Superman interrompido
em cinza
a muralha
derrota


(C.Brites)



(Imagem DAQUI, de Jon Rafman, um artista que coletou fotos do Google Street View. Explicações AQUI)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ata-me!





Os besouros chegaram à mesa. Eram quatro, talvez três... ou cinco. Quando abrem as asas é difícil contá-los. Tocavam as antenas. Primeiro pensei que gladiavam-se, mas nenhum parecia ferido. Aproximei-me da janela através da qual podia ver a mesa. Não me surpreendeu descobrir, os besouros tinham bocas, e línguas. Não compreendia a conversa. Na escola preferi estudar espanhol, negligenciando a língua besouro.


Arrependo-me até hoje. Perdi um emprego por não falar besouro fluente.



(Por Ricardo Delfin)