terça-feira, 31 de agosto de 2010

nº09: Escadas






Que é das sombras?
Um balão vazio
Que é da memória?
O filho abortado
Que é das sombras?
O medo de fugir
Que é da memória?
Um beijo na avenida
Que é das sombras?
O natal no armário
Que é da memória?
O enlace dos ratos
Que é das sombras?
Um diálogo a nado
Que é da memória?
O intento do corpo
Que é das sombras?
O lance que não acaba
Que é da memória?
Um amor tão grande
Que é das sombras?
O pavor de me encontrar
Que é da memória?




(Tiago Araújo)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Mister Mario Miranda Wong Quintana





Mister Mário Miranda Wong Quintana


Não era difícil ver aquele senhor nesta mesma praça alimentando aos pombos. Ele acompanhou a colocação de grades, portões e interfones sob as marquises onde anteriormente se amontoavam os sem-teto. Percebeu a troca dos bancos da praça por novos, ergonomicamente voltados a colocação de bundas e totalmente desaconselháveis a quem tentasse tirar uma soneca ali. O senhor Mário escreveu um poema criticando e denunciando o desprezo da sociedade por aquelas pessoas e o enviou aos jornais. Amarrou a mensagem na perna de seu pássaro favorito e o soltou pela janela. Apesar da assinatura graciosa de Miranda Passarinho, o responsável pelo envio da mensagem era Wong, uma de suas cinco personalidades identificadas e diagnosticadas posteriormente pelo renomado psiquiatra e militar da reserva Capitão Rodrigo Terra. Internaram aquele senhor no Instituto Psiquiátrico Forense para observação, e pararam de aparecer pombos mortos. Como nada é perfeito, também ressurgiram os mendigos na praça. Dormiam sentados, confortáveis em seu desconforto. Talvez nunca mais ouvíssemos falar dele, não fosse outra de suas personalidades, o paranóico fumante piromaníaco Quintana Boleadeira. Em meio a fuga de sua cela, ateou fogo nos colchões provocando o incêndio do edifício. Após uma noite de mortes, feridos e da maior fuga em massa de psicopatas e maníacos homicidas da história de Porto Alegre, a brigada militar e os bombeiros conseguiram controlar as chamas. Em meio aos populares que testemunhavam as operações de rescaldo, um ou dois internos hesitavam em voar para mais longe. Uma enorme coluna preta subia ao céu claro de inverno. Talvez pelo frio, um lamentou a demolição de sua antiga moradia. O outro acompanhava a fumaça que lembrava uma lava leve no ar e murmurou encantado por aquela manhã “As únicas coisas eternas são as nuvens.”

















(...)

sábado, 14 de agosto de 2010