sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Entre as 70


Anote na agenda: antes do final de novembro estará circulando o livro que reunirá as 70 poesias indicadas como as melhores inscritas no concurso pela Comissão Julgadora de TALENTOS. Será um livro ilustrado e que já tem a capa definida. Ela foi a preferida na votação realizada pelo site junto aos poetas que inscreveram seus trabalhos – só eles puderam votar. Teve 43,77% da preferência. Todos os poetas que terão poesias editadas no livro receberão um exemplar gratuitamente. O livro também será colocado à venda para aqueles que se interessarem em adquirir exemplares da primeira edição do maior concurso de poesias da internet brasileir a. Confira aqui as 70 poesias que foram indicadas pela Comissão Julgadora para fazer parte do livro de TALENTOS. Elas foram selecionadas entre as 1.252 inscritas no concurso.
ELEVADOR ESTARÁ LÁ.
www.talentos.wiki.br/poesia.php

domingo, 16 de agosto de 2009

19 de janeiro



Em 19 de janeiro de 1981, Estados Unidos e Irã assinaram acordo para a libertação de 52 norte-americanos mantidos como reféns por mais de 14 meses. Em 19 de janeiro de 1910, um incêndio destruiu o palácio de Cheregan, em Constantinopla, sede do Parlamento turco. Em 19 de janeiro de 1982, morreu Elis Regina, em São Paulo, por intoxicação exógena aguda. Em 19 de janeiro de 379, Teodósio I tornou-se o imperador do Império Bizantino. Em 19 de janeiro de 1961, inaugurou-se a Rodovia Presidente Dutra. Em 19 de janeiro de 2004, foi lançado o Orkut. Em 19 de janeiro de 1794, os ingleses desembaracaram na Córsega, cuja bandeira é a de um negro com uma bandana na cabeça. Em 19 de janeiro de 1809, nascia em Boston, Estados Unidos, pesando 2.670 gramas e medindo 40 cm, Edgar Allan Poe. Coincidência ou não, 40 anos depois, em 03 de outubro de 1849, foi encontrado nas ruas de Baltimore, com roupas que não eram as suas, cego de um olho e em estado de delirium tremens. Faleceu quatro dias depois, sem jamais explicar de forma coerente o que lhe acontecera. Suas últimas palavras, segundo o Wikipedia, foram: "Está tudo acabado: escrevam Eddy já não existe». Após seu falecimento, de acordo com o relatório médico do Washington College Hospital, transformou-se em Corvo e saiu voando pela janela pra combater a injustiça e provocar a morte de Brandon Lee mais de um século depois, em um acidente misterioso e estúpido.










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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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Os melhores preços para bugus estão no Mercado Municipal. Dispostos em sacos de trinta quilos, para comprar por pugido, granel, baciada, arroba, dúzia, quilo. Para garantir que são frescos, expõem-se os bugus ainda vivos, as patas movimentando-se lerdamente no ar. Aqueles no fundo esmagados ou sufocados pelo peso dos de cima.

Magali diante dos sacos. Com a mão livre, escolhe os bugus. Verifica a cor da carapaça, estica as extremidades, cheira, sacode junto ao ouvido para sentir e escutar o balanço da seiva ou se chama pela mãe, observa a data de validade. O feirante tem a língua presa, de sua fala espalham-se perdigotos. Oferece à freguesa um canivete para descascar o bugu e sugere que ela prove as patas traseiras. Os gritos são inaudíveis na confusão do mercado, mas a ela tem o pudor de pinçar o cérebro para não correr o risco de escutar a agonia. Esmaga-o entre os dentes, sente o sabor de ressentimento e vaidade.

Com uma bacia pequena, seleciona os melhores: menos de uma dúzia de bugus gordos, redondos, falantes. O plástico é fechado com um nó estreito e empilhado juntamente com repolhos, bananas-prata e ouro, limão galego, cenouras, mandioquinha, cebola verde, meia dúzia de ovos de codorna, alho, maracujá, rúcula, abiu, tomates, postas de pirarucu, abacaxi, melancia. O saco estufa, um orvalho minúsculo forma-se nas paredes internas daquela bexiga. Magali retorna para seu prédio, ignorando as conversas dentro de suas compras. Os bugus concluem que a sobrevivência da maioria depende do sacrifício de outros para se poupar oxigênio. Há um sorteio ou uma briga. Um é estrangulado. No caminho dela, há um homem fétido sentado na calçada. Aguarda o final da feira, quando procurará por restos. Levanta a cabeça para coçar o pescoço e a vê, apressando o passo. Ele continua coçando enquanto exclama, lembra-se de mim, lembra-se de mim, eu sei quem é você. Intimidada pelos gritos, ela fixa os olhos na calçada enquanto arrasta seu carrinho de feira.

Em seu apartamento, é recebida pelo gato. Tira as sandálias, quer descalçar. O animal se esfrega em seus tornozelos e lambe, contente por existirem, os dedos dos pés. Enquanto esvazia o carrinho, o gato acompanha. Ela abre o saco, retira um bugu inconsciente e oferece para o felino. Este abocanha o presente e foge para a sala para deliciar-se na solidão. Magali lava as mãos, separa os temperos necessários. O fogão é acesso com um ruído elétrico, um fio de óleo é derramado sobre o fundo da panela, para refogar cebola, salsão, salsão, louro, tomilho. A panela chia. O amparo de ar fresco fornece uma sobrevida aos bugus. Eles tossem e se arrastam sobre a pia, próximo a tábua de corte. Ela se acorcora para buscar outras panelas que batem umas nas outras, num badalar cacofônico. O vestido sobe, expondo as coxas para ninguém, ela que está só na cozinha, a calcinha refletida no aço inoxidável ou sugerida sobre o teflon. Os bugus se animam uns aos outros e se levantam lentamente. Um deles rasteja na direção inversa à faca. Mas quando ela se coloca em pé, novamente, num gesto automática ela recaptura este fugitivo, quebrando suas costelas e carapaça, e o deita sobre a tábua de plástico cheia de marcas, antigos cortes como linhas de mão. A faca desce e decepa a cabeça deste antes de qualquer atitude. Então, com as mãos livres, ela irrompe o abdômen macio com as mãos, como quem abre uma tangerina. A faca é reutilizada para remoção das sementes. Parecem gotas de duas pontas. Ela recolhe uma e experimenta entre os dentes. Pressiona lentamente até irromper e esparramar seu conteúdo diminuto e amortecer a ponta da língua com sua paixão irrealizada. Os demais bugus choram e suplicam por suas vidas ou recolhem-se em suas carapaças fazendo suas preces.

Magali joga vinho tinto na panela com os refogados. Aproveita um tanto numa taça e mastiga outra semente. Quase distraidamente captura um a um os bugus. A maioria pede pela mãe, mas há um que cospe e xinga e caga. As cabeças são entregues para deleite do gato. Um consegue escapar com um talho na cabeça, mais falta de pontaria que por piedade. Porém, como todos os demais, seu corpo foi arreganhado, sementes extraídas e jogado na mesma panela que os cadáveres de seus companheiros, coberto de água, temperado com sal e pimenta-do-reino. A torneira limpa os resíduos, sucos e secreções da tábua.

Retiram-se os ingrediente após o cozimento, reza a receita. Durante este tempo, Magali prepara salsa verde: mistura ovos, salsa, vinagre, azeite, sal e pimenta a gosto. Em uma outra vasilha, mistura creme de leite e raiz forte que depois vão para o liquidificador que urra enquanto sua lâmina recorta a densidade daquele líquido. Experimenta com o garfo um a um os bugus cozidos na panela e descobre que alguns não estavam no tempo certo. Suspira. Lava as mãos com detergente de cozinha para desodorizar os dedos. Inspira procurando vestígios de alho ou de sangue, mas tudo é inodoro.

Entreabre a calcinha, enfia o fura-bolos e o pai de todos. Prova o sabor. Está bom. Só então molha a colher de pau em sua vagina e aproveita seu gosto para corrigir o tempero e a distração. Numa travessa grande, coloca os bugus e os legumes. Rega com um pouco do caldo, mas aproveita o restante no liquidificador, onde é batido e retorna ao fogo lento até adquirir consistência de molho. Ela coloca o timer e vai para a sala esperar o toque assistindo à TV de domingo. Neste momento, ela recebe um telefonema. Espera que seja o namorado que vai fazer uma prova de concurso público.

Mas é uma amiga que acabou de fazer a operação de redução do estômago. A amiga se sente deprimida e quer conversar. Sente falta de algo para culpar. Diz que descobriu que seria possível beber leite condensado, com o tempo ela recobraria seu tamanho e seu peso. Ela procura animar a amiga e fazê-la esquecer desta ideia, mas não convence nem a si mesma. A conversa remete ao tempo em que enfiavam os dedos nas gargantas uma da outra até expelir o conteúdo do que comeram. Mas elas já não eram crianças.

Na tela do eletrodoméstico, um astronauta enfrenta um tiranossauro. O timer dispara e ela usa isto como desculpa para desligar. Vai a cozinha, apaga o fogo. Retira a travessa dos bugus e posiciona um prato vazio para seu lugar na mesa. Os talheres são colocados. Um copo de água filtrada. Um bugu é colhido na concha e finalmente chega ao prato. O molho é derramado como um cobertor cremoso. Ela não tem como saber, estão todos desfigurados e irreconhecíveis pela fervura e imersão de temperos, mas aquele é o bugu que resmungou algo antes de perder a cabeça.

Admira a mesa posta. O gato está na janela, observa a paisagem de viadutos. Na sala, o filme foi interrompido por um comercial cheio de gente bonita e com dentes perfeitos. Magali bebe o copo d´água. Garfo e faca voltam para sua gaveta, limpos. Recolhe travessa e guarda no forno o almoço, prato na geladeira. Magali deixa a cozinha, deita-se no sofá sob o sol pelo resto da tarde. Sonha com pipas e coelhos azuis.











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terça-feira, 4 de agosto de 2009

EVENTO


Stalker

A data do lançamento é dia 21/08/2009, sexta-feira, no Espaço Cultural Terracota (Av. Lins de Vasconcelos, 1886 - Vila Mariana ). Nelson de Oliveira vai mediar um debate sobre o gênero e, além disso, serão sorteados exemplares do Portal Stalker.

P r o j e t o P o r t a l

A revista Portal Stalker — terceiro número do Projeto Portal, coordenado por Nelson de Oliveira — traz contos inquietantes que vão do universo da ficção científica ao do fantástico, passando pelo da fantasia.São dezoito narrativas sobre novas tecnologias, viagens no tempo, ciberespaço, telepatia, contatos imediatos do terceiro grau, pós-apocalipse, pós-humano, utopias e distopias, de dez autores contemporâneos.O Projeto Portal prevê seis números, com periodicidade semestral. Cada número homenageará, no título, uma obra célebre da ficção científica: Solaris, Neuromancer, Stalker, Fundação, 2001 e Fahrenheit.
Aviso importante: o projeto não se destina à comercialização. Os poucos exemplares da revista serão dados de presente aos leitores escolhidos pelos autores.
Os contistas do Portal Stalker são: Brontops (SP), Ivan Hegenberg (SP), Luiz Brás (SP), Marco Antônio de Araújo Bueno (SP), Maria Helena Bandeira (RJ), Mayrant Gallo (BA), Roberto de Souza Causo (SP), Rodrigo Novaes de Almeida (RJ), Sérgio Tavares (PR) e Tiago Araújo (SP).P o r t a l S T A L K E RRevisão: Ivan Hegenberg • diagramação: Raquel Ribeiro • capa: Teo AdornoFormato: 16 x 23 cm • nº de págs: 108 • tiragem: 300 exemplares
http://projeto-portal.blogspot.com/

Brontops - http://brontops.blogspot.com/ ( DE SEGUNDA)
Ivan Hegenberg - http://ivanhegenberg.blogspot.com/
Luiz Bras - http://achados.e.perdidos.zip.net/
Marco Antônio de Araújo Bueno - http://www.literaujobueno.blogspot.com/
Maria Helena Bandeira - http://www.ovoazulturquesa.blogspot.com/
Mayrant Gallo - http://nonleia.blogspot.com/
Nelson de Oliveira - http://urbanalenda.blogspot.com/
Roberto de Sousa Causo - http://rscauso.tripod.com/
Tiago Araújo - http://escritoresdesegunda.blogspot,com/( DE SEGUNDA)
Rodrigo Novaes de Almeida - http://contosdafenix.blogspot.com/
Sérgio Tavares -

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Atada

Escrever com liberdade. Se divertindo. Sem medo de ser feliz. É possível? Com tanta gente julgando cada vírgula, cada resma de sentido? Não sei. E pra quê escrevo? Entre tantas possibilidades, por que escolho aquela que me trás mais um sofrimento? Além das contas para pagar, o intestino preso. Por quê? Segundo encontro e lá estou eu rodeado por eles. Quase todos. Mas estão lá. Voltaram. Sinceramente achei que não voltariam. Na verdade, achei que não viriam no primeiro encontro. Eu ficaria sentado no Café, sem dinheiro para pagar a água. Mas eles vieram. Todos. E estão aqui, de novo. Olho nos cantos das bocas e reviso o que sei de cada um deles. De alguns mais, outros quase nada. Mas o suficiente para admirá-los, apostar cada segundo da minha crença no talento majestoso que guardam nas pontas dos dedos. E como são parecidos! Não imaginam o quanto. Irão descobrir. Em alguns casos, se surpreender. Desta vez não peço uma água. Há um novato e beberico da soda dele, quando a garganta pede. Vão compondo. Criando. Em volta uma névoa de cigarro e futuro. Vou me sentindo pequeno, mas farto. A percebo olhando pelo vidro. Eles estão lá dentro, mais velhos, mais certos. Trazem as cicatrizes do sucesso. O grupo mudou um pouco, mas se mantém. Não ostentam a ansiedade da auto-afirmação. Um deles pede uma rodada para todos, resultado do último prêmio. A minha respiração no vidro nubla a falta que aquilo me faz. Mesmo que só ouvindo, penso em como foi bom estar por perto, em como as coisas aconteceram rápido. A foto na parede parodia a imortalidade tão vitral. Resolvo entrar, eles não percebem a minha chegada. Um ou outro quer saber quem sou. Ela levanta e me abraça forte, reconhecendo os olhos dele nos meus. Sussurram minha apresentação, admirados por quem eu represento. Depois vem uma seqüência de cheiros bem conhecidos, mesmo que distantes. Perguntam o que andei fazendo, se já tive outros filhos. Falo de viagens, projetos, falta de assunto. Comentam que o nome é ainda o mesmo. De Segunda. Eu sorrio e penso que tudo poderia ser assim, sempre. Essa nostalgia por algo que eu não sei muito o que é. Mas sinto falta como se algo chorasse por meus olhos. Pergunto se não vão acabar com a tal revista das frases, não deveria ser algo finito? Um brinca que sempre tem uma nova aparecendo. Dou um novo sorriso, com nó. E me levanto. Antes, perguntam de minha mãe, digo que está se recuperando. Pedem desculpas por não terem aparecido, a maioria não soube. Falo que entendo, da correria. Descrevo uma caixinha ond ele guardava as anotações antigas em seus originais. Eles sentem na carne um tempo que eu tive só um vislumbre. Parto. Quase me vendo correr entre as pernas das cadeiras, enquanto eles falavam de literatura com meu pai.

01/12/2008

domingo, 2 de agosto de 2009

a frase: os aros




Pelas lentes presas nos aros, vejo você em meio a um croissant. Disfarça mal o interesse, concentra-se no livro. Está longe, mas consigo ler a capa: papagaiada espírita, aquela coisa de vai e volta, cheia de mensagens evidentes. Adivinho sua procura por um sentido. Peço à garçonete lhe entregar um pedaço de bolo, aquele atrás do vidro no mostruário dividido como pizza, os cortes cruzando-se no centro. Estava inteiro, agora resta a incompletude. Você se surpreende e agradece de longe; por meio de um gesto, convida a sentar em sua mesa. Rodeamos assuntos para não falarmos daquilo que, de fato, queremos. Um risco em espiral escapa do centro. Você acredita ter sido prostituta na sua encarnação anterior. Cheguei tarde, então? Notei as estrelas coloridas no pulso. Você me esclarece que é necessário retocar as cores periodicamente. Você faz pouco caso da minha crença em alienígenas. Pergunto se já trabalhou no circo e você me responde que sim, até a morte de uma criança em um acidente no carrossel. Me conta que foi contorcionista e a imagino em auto-felação. Parece que nos conhecemos faz tempo; entretanto, quanto mais tempo ficarmos juntos, perceberemos o quão pouco temos em comum. Você me dá seu número e eu o meu, ofereço uma carona, mas você está de bicicleta. Fica para uma próxima, eu ingenuamente acreditei. Pago nossa conta. Confiro o relógio, ainda é cedo, a hora não passa: deve ser o verão. Decido dar uma volta. Vou a um café, de fronte a uma praça. Peço um suco e um croissant. Retiro o livro que mais amo de minha bolsa, todo ele rabiscado e cheio de anotações, lições de alguém que já morreu. Um caroço entope o canudinho, interrompo a leitura em meio a um parágrafo, sinto-me observada. Vejo você com seus óculos de aros redondos, me encarando sem disfarçar.